Soldado Zé Roberto
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
O Soldado Zé Roberto tinha uma prosa boa; uma lábia... Fazia amizades com facilidade... mas logo a perdia.
— Ficou bastante conhecido no lugar que fora destacado. Pela 'esperteza' em não assumir os compromissos financeiros que fazia. — O homem não pagava nem a luz pra dormir.
Numa diligência, o Soldado Zé Roberto e outro soldado e, João Sargento, que substituía o delegado naquele dia. Fizeram parte da guarnição para prender Pixico (pescador antigo daquelas sercanias).
Havia uma queixa antiga contra Pixico: a de ter agredido a própria esposa. Mas isso não pesou tanto na sua apreensão: o mais grave foi dele ter (nesse dia) se envolvido numa confusão, e agredido um colega de gole; numa briga de bar; no perímetro urbano.
Naquele tempo viatura-policial era um luxo. Que, nem toda delegacia tinha à sua disposição. — A guarnição foi a pé mesmo nessa missão.
Por sorte Pixico não havia evadido-se do local da confusão e o Soldado Zé Roberto, ao avistá-lo, foi logo o enquadrando; em voz de prisão (nem foi preciso da ajuda dos colegas de farda para imobilizá-lo). — Por Pixico não oferecer resistência à prisão. Era velho conhecido dos militares. No interior todos se conhecem.
No trajeto a delegacia Zé Roberto deu alguns empurrões no preso, para que ele andasse mais rápido. Até que Pixico amuou, impacou de vez e disse uma boas ao soldado Zé Roberto...
— Pra quê tanta correria?! se pra me pagar o peixe que me comprou, você não tem pressa alguma?
Chegados à delegacia...
João Sargento (de delegado) ordenou ao soldado Zé Roberto, que puzesse Pixico numa das celas daquela Cadeia Pública e depois fosse a sua sala, ao lado.
João Sargento teria uma conversa séria com o soldado... para dar-lhe um sabão. — Um aperto.
Uma vez, os dois frente a frente...
— Zé Roberto, me diga a verdade (tão somente a verdade), se deve, vai pagar não quero nem saber de onde vai tirar esse dinheiro...
— Me diga uma coisa aqui: você deve ao preso Pixico: qual o montante e há quanto tempo contraiu essa dívida?
— Eu devo a ele, sargento, 2 quilos e meio de peixes, há uns três meses e pouco.
— Não é possível uma coisa dessa Zé Roberto!! o Gonverno sempre pagou nosso soldo rigorosamente em dia, e porque você não paga o homem?! por favor, dê seu jeito e pague o Pixico!
No outro dia Pixico foi solto pelo Sargento João. Com a justificativa dele não ser um preso de alta periculosidade; não ter matado, roubado e nem cometido algo de mais grave à vítima.
Se Pixico recebeu tal dívida, ninguém soube e ninguém viu. — Até ontem.
..........
Outro grave defeito do soldado Zé Roberto soube-se posteriormente a esse episódio ocorrido. Nesse mesmo lugarejo mineiro, em que estava destacado: como Agente de Segurança da Força Pública.
Um dia, Zé Ferreira (grande furador de cisternas do lugar) foi cavar uma, para a dona Messias, vizinha do Soldado Zé Roberto.
Na limpeza do espaço, a ser trabalhado a perfuração do poço, removia alguns objetos; dentre estes uma tralha de pesca: rede, tarrafas, varas, molinetes...
Alguns meninos (as) da vizinhança, ao entorno do serviço, curiosos observavam o seu Zé Ferreira nessa atividade. E uma garotinha (filha do Soldado Zé Roberto) duns 4 a 5 anos, ao ver uns anzóis presos numas linhas de náilon, perguntou:
— Moço isso é pra pegar galinhas?!
— Não minha filha, isso é de pegar peixes. Respondeu seu Zé.
— Pois lá em casa o papai usa isso é pra pegar galinhas.
Da varanda dos fundos a dona Messias ouviu a prosa da garota com o seu trabalhador. Aproximou-se e entrou na conversa, soltando os cachorros:
— Safado, sem vergonha, bandido... esse seu pai. É por isso que as minhas galinhas (uma a uma) não para de sumir!!!
Esse assunto espalhou-se pelo mundo... e o Soldado Zé Roberto também; de cidade em cidade sem deixar seus maus costumes...
* Nemilson Vieira Gestor Ambiental, Acadêmico Literário ANELCA & ALB /MG/RMBH
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