ZÉ GARROTE
Quando perguntavam sobre sua origem, ele respondia, com um tom de desprezo pela própria vida: Eu vim do fim do mundo, lá dos cafundós!
Não sabia o nome de seus pais. Não sabia ler nem escrever.
Considerava toda a sua vida um infortúnio, e quando algo de bom acontecia ele dizia que era a ilusão o chamando para uma brincadeira. Ele não gostava muito de imaginar, achava que era perda de tempo pois seu pensamento voava rasteiro.
Uma ideia que ele nutria não avançava. O desânimo estava em sua visão. O que de novo poderia acontecer em sua vida? Era homem feito, mas não havia conquistado nada além do apelido de Zé Garrote., pois gostava de dormir nos estábulos, sua cama era o feno, Vivia se coçando e tinha o corpo cheio de feridas. A sua alma não tinha vontade, ele vivia o sonho dos outros, pois só levava fé no sucesso dos outros.
Zé Garrote era trabalhador do campo que levava uma vida sofrida, levava em seus ombros o peso do conformismo. Trazia em seu rosto a tristeza dos seres limitados, por isso ele só convivia com poucos bons resultados.
Essa triste convivência o levava a crer que sua vida era uma ilusão.
O seu patrão João Vigêncio era um carrasco, um explorador. Ele agia assim com Zé Garrote pois o pobre nunca dizia não. Sim para os outros, não para ele mesmo.
Um dia, durante a madrugada, a fazenda de João Vigêncio é atingida por um incêndio de grandes proporções, que não se sabe se foi criminoso ou se foi devido ao calor excessivo.
Zé Garrote e o seu patrão morreram na catástrofe.
Morreram o explorador e o que se deixava ser explorado.
Morreram o rico que só via dinheiro e o pobre de alma que deixou pra trás a oportunidade e se acostumou com os poucos bons resultados de sua vida.
( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)