Saudades ...
Lembro da mesa posta logo pela matina. Era a fartura que cheirava à terra. Era a festinha de ver tudo bem distribuído sobre a toalha de xadrez azul.
Tinha cará, batata-doce, bolo de macaxeira, cuscuz, leite morno e o café fumegante no bule velho e descascado de ágata.
A mãe acordava cedo com o canto do galo e preparava com muito cuidado toda a providência divina. O pai já estava arrumado saboreando a sua primeira refeição do dia. Depois ia para o trabalho resignado.
Eu acordava bem mais tarde porque a cama era o convite para a preguiça. Mesmo com a mãe chamando. E não tinha outro jeito, senão, levantar; esfregar os olhos; abrir a janela e sentir o cheiro do capim fresco e orvalhado com o sereno da noite. Sonolenta e cambaleante; me dirigia até a cozinha e me deparava com a alegria infantil da mãe que me oferecia um pratinho com um pedaço de bolo que eu tanto amava.
Acho que aquilo era a felicidade...
Mas nunca entendia o porquê dos pés do pai sempre ásperos e as mãos da mãe com calosidades. Um dia os vi chorando abraçados no mormaço e só pude oferecê-los a água fresca do poço. Mas nunca perguntei o que tinha acontecido. Era íntimo demais.
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Fagner - Canteiros.