A MADAME DE VISON

Certa feita uma moça recatada, trabalhadora, cumpridora de seus deveres, lá das bandas do extremo Sul das terras tupiniquins, fora presenteada por uma parenta próxima com um lindo e excêntrico casaco de Vison. Me parece que era de cor bege e segundo ela muito quentinho, o necessário para aquecê-la dos dias infernais, melhor dizendo, dos dias invernais onde o minuano costumeiramente comete o seu sacrilégio nas noites e dias sulinos em seus cidadãos.

Dizem que esta moça não tirava mais este casaco, chegando ao “absurdo” de dormir com ele, tanto fora sua paixão ao “primeiro toque”. Cada vez que vestia o Vison, sua visão alcançava imagens nunca dantes vista sentindo-se uma verdadeira madame provocando ciumeiras em suas colegas e há quem diga que aconteceram momentos de chiliques em familiares próximos, tamanha era a faceirice de sua dona.

Mas como na vida, nem tudo são flores, houvera o dia dos espinhos atrapalharem a vida desta sulista. Seria as bruxas de Desterro que a visitaram a fim de promoverem algumas estrepolias nas paragens do minuano com a benção de Cascaes e do eterno bruxo Peninha, para comprovar que a açorianiedade também se faz presente naquelas bandas?

Acontece que numa certa manhã, os anjos e querubins acordaram tristonhos, pois haviam brigados com São Pedro e, arrependidos puseram-se a chorar por todo o dia irrigando a terra com suas lágrimas. Nas praças, as flores ficaram mais floridas, a grama mais viçosa e as estradas enlameadas. Justamente na hora que a moça saía de sua casa para o trabalho vestindo o seu Vison, na mão direita segurando sua sombria e na mão esquerda uma sacola cor de rosa contendo em seu interior, sua vianda. Toda feliz e sorridente para com todos que ela encontrava pelo caminho, porém o destino desejara escrever uma nova história e num momento de desatenção, o salto do seu sapato trava numa falsa poça de água levando a “infeliz” ao chão. Foi um espetáculo à parte, pois para um lado voou a sombrinha, para o outro lado a sacola e sua vianda enquanto os transeuntes ficam a olhar seu corpo caído ao chão. Sentado num banco da praça defronte onde ocorrera o “incidente”, um pescador de tainha das terras desterrenses grita para a moça: levanta sua tansa, pensas que alguém vai te levantar daí, Madame de Vison? Mofas com a pomba na balaia.

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 14/07/23

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 13/11/2023
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