A Moça do Ponto de Ônibus
Soraia era uma jovem filha de uma família tradicional da pequena cidade de Rio Grande. Uma linda moça. Gostava muito de se admirar no espelho, um imenso espelho preso na parede rosa de seu quarto. Sua avó foi miss, sua tia foi miss, sua mãe foi miss e ela foi criada para também ser miss. Soraia era noiva de um recém-formado medico Juan Carlos, que morava na cidade vizinha, Igreja Santa.
Era dia de sábado, Juan telefonou avisando que chegaria um pouco mais tarde, então ele pediu que se encontrassem no ponto de ônibus perto do Shopping Center. A jovem imediatamente de arrumou, se perfumou e ficou parecendo a mais linda jovem da cidade, inspirada nas misses da família.
Juan Carlos saiu uma hora depois do consultório e chegaria às 7h30 para pegar a noiva e irem jantar no Restaurante Le Mondo, no centro da cidade. Dona Luiza, sua mãe queria saber por que Juan não viria buscar em casa, ela não sabia também explicar, mas parecia que ele deveria ir a casa dum paciente e ficaria cansativo dar a volta para a mansão da família, que ficava num ponto muito alto do bairro.
Soraia pegou carona com a prima e ficou sentada no banco do ponto de ônibus, eram 6h o céu já estava escuro. Ansiosa, ficava lendo propagandas de beleza na fachada do estabelecimento comercial. Passava ônibus e entrava gente, saia gente e passava ônibus, o tempo também passava e Juan demorando em chegar.
Ela olhava o relógio de ouro presenteado por ele e já eram 7h25 e nada. Choveu e já passava o último ônibus do dia. Soraia ainda o esperava.
Isso ocorreu mais ou menos uns dez anos atrás. Hoje se vê Soraia sentada esperando o noivo. Ela ainda continua sentada no banco do ponto de ônibus, inerte, esperançosa e com a mesma roupa daquela noite. Envelheceu bastante, não toma mais banho, isolou a família que também não fez nada por ela, pois a jovem que enlouqueceu não acredita que naquela noite Juan Carlos morreu num desastre de carro na estrada de Igreja Santa quando viria jantar com ela.