COMO EXPLICAR?

Há certas coisas que acontecem em nossa presença e que, por mais que demos tratos à bola, jamais conseguiremos uma perfeita definição para o acontecido.

Foi um desses casos que presenciei e que até hoje, já se vão mais de trinta anos, não encontrei uma resposta convincente para tal fato. Foi assim:

Era de tardinha de um sábado, e eu estava sentado na calçada da casa do meu vizinho, sr. Ataliba, conversando sobre as amenidades que ocorrem nas vidas das pessoas simples como nós, quando apareceu o velho Salim, conhecido por todos como o turco da prestação.

Era uma figura ímpar, sempre vestido com terno preto, sem gravata, a camisa sem colarinho, atada ao pé do pescoço com um botão de ouro em forma de bola, como se fora uma pérola.

Trazia a maleta montada numa carriola e ao ver-nos, gritou de longe:

- destra bez Zalin bai bender uma pano brá a primo fazê a rôpa do natal.

Já mais perto, estendeu a mão calejada para o aperto amigo de boas-vindas.

E haja sair coisas de dentro da maleta até que surgiu um corte de tecido, verde petróleo, muito bonito.

- Zalin bai fazê uma breço esbecial...

Claro que negamos a compra, porque fazer roupa nova para o natal, estava completamente fora dos nossos planos.

Foi aí que a coisa inusitada aconteceu.

- Zalin vai brová que essa pano num bega fogo.

E tirando um vidrinho do bolso do paletó, despejou o conteúdo no pano e tocou fogo.

As labaredas azuis rapidamente se consumiram e o pano permanecia tal como antes...

Pensei ser algum fluído para isqueiro, ou éter, ou qualquer outra substancia volátil, mas não havia cheiro que denunciasse...

Claro que finalmente, depois de muita argumentação, lamúrias, cenas histéricas com voz de choro, nós dois o Sr. Ataliba e eu, compramos com os “descontos especiais” os dois últimos cortes do tecido milagroso, mas nunca tivemos a coragem de testa-lo com fogo, apesar de a dúvida permanecer até hoje.