O CÃO RAIVOSO

Em certo dia, em uma certa noite, no mês de agosto, com a força da lua cheia, um cachorro doido acometido pela doença da raiva, causou um grande reboliço no pequeno povoado, localizado na região sul do Ceará. Conta-se que o cão passou feito uma bala, impossibilitando a sua caçada. Sabia-se desde sempre, que tanto os outros cachorros, como os outros animais ou mesmo o próprio homem poderiam serem contaminados com a mordida, ou saliva do cão doente. A notícia logo se espalhou, o medo tomou conta do lugarejo e cada um se prevenia como podia, crianças foram trancafiadas em casa e adultos atentos, já que não existia ali o remédio para não se contrair a perigosa doença, no caso de mordidas, só nas grandes cidades ou capital. Uma coisa era certa, mordido pelo cachorro doido, a pessoa correria louca estrada afora, dizia a população. Mas sem nada saber, o senhor Felizardo, acompanhado do filho Severino e do sobrinho Serafim, moradores do lugar, vinham de uma localidade vizinha, num caminho estreito e escuro, quando se depararam com o cão raivoso, vindo muito rápido, sem nenhuma chance dos três fugirem. Foram severamente atacados pelo animal, que imediatamente escafedeu-se do lugar. Apressados e temerosos, chegaram no povoado, onde logo perceberam a gravidade da situação. Imediatamente, foram levados para a cidade próxima sob os olhares arregalados do motorista e de outro morador, assustados com o que poderia acontecer no percurso da viagem. Chegando na cidadezinha, também não havia a medicação, e, agitado, o senhor Felizardo não parava de falar: “eu, meu filho Severino e o meu sobrinho Serafim fomos mordidos por um cachorro doido”. Todos se entreolhavam com o semblante preocupado diante da grave situação. O sobrinho Serafim, pensou: “Meu Deus, vai me matar de vergonha”. De imediato, foram orientados a ir para a Capital o mais rápido possível. Entrando no ônibus, Serafim manteve distância e falou para si: “vou sentar lá no fundo do ônibus, não quero passar vexame e nem causar terror aos passageiros” e sentou na última cadeira, achando que ia se safar da língua nervosa do tio. Tão logo o tio entrou no ônibus fora logo falando e gesticulando: “eu, meu filho Severino e o meu sobrinho Serafim, aquele que está sentado ali na última cadeira, apontando com o dedo para o rapaz, “fomos mordidos por um cachorro doido”. Causando nos passageiros tamanha aflição, que só aliviou quando chegaram na Capital e os mordidos de cachorro doido desceram nos seus destinos. Tomada a medicação, retornaram para o vilarejo, agora, sim, poderiam dormir tranquilos. O cachorro doido não mais apareceu, seguiu mata adentro, não  por causa da raiva, mas com medo do senhor Felizardo encontrar.