1184-O NOME DA CACHORRINHA- FINAL
O nome da cachorrinha - 2ª. parte final
“ Diacho! O cumpadi Zeca ficou nervoso à toa. Mais agora, invêz de um probrema, tenho dois: num tenho a ajuda do cumpadi com a carroça e num sei o nome da cachorrinha “
E lá foi o compadre Afonso matutando, matutando sobre seus dois problemas. O caminho entre os dois sítios era curto, coisa de meia légua, mais ou menos, que foi feito com rapidez, o que não prejudicou seus pensamentos.
Por mais preocupado com a entrega dos sacos de milho, o pensamento se voltava sempre para o nome da cachorrinha do compadre Zeca.
Matutava que matutava:
“Ele bate as mão e ela dá as latidinha... Bate as mão ...ela, sentadinha, faz au-au...”
Ao chegar à porteira de seu próprio sítio, no que passou e deixou a porteira bater no moirão da tramela, com um “PÁ” de pau batendo em pau, um pensamento lhe acudio.
“Mais é isso!!! Ele bate as mão e ela dá aqueles latidinho de quem ta ouvindo o nome...!!! Intão agora sei cumo é o nome da cadelinha inteligente. Mais qui inteligente qui é, sô...!
E em seguida foi tendo outras ideias:
“Vou contá pra minha muié essa história, quero vê se ela sabe a resposta. Ela é meia sonsa, vai demora mais de semana prá divinhá o nome da cachorrinha do cumpade Zeca.”
Apressou o passo e entrou esbaforido na modesta casa, foi direto para a cozinha, onde a esposa preparava o almoço.
— Zurmira, Zurmira, tenho novidade prá te contá.
Pegou um copo no guarda-louça, encheu com água da torneira da pia e foi entornando boca abaixo, tão aflito estava em saber se a mulher adivinhava o “causo da cachorrinha”.
— Mais intão ele vai te imprestá a carroça?
— Não, Zurmira, o causo é e que ele tem uma cachorrinha intiligente prá xuxú. Imagina que ela é tão intiligente que ela memo iscoieu o seu nome!
—Ara, Fonso, mais, e os saco de mio, cumu é qui fica?
— Premero, deixa te conta a história da cachorrinha.
— Fonso, carma. Parece qui viu assombração!
— É anssim: o cumpade Zeca tem uma cachorrinha que fica sentadinha na frente dele. Ele intão bate parma e ela late...au-au. Intão o cumpadi me perguntou cum’era o nome dela. Cê sabe que vim de vorta o tempo todo pensando no nome da cachorrinha. Agora quero vê se ocê também divinha o nome da...
— Ara, Fonso, qui besteira é essa?
— Bestera nada, muié. Caso sério. Mode que eu num divinhei, o cumpade num vai m’imprestá a carroça.
— Ara, deixa vê se eu sei. Ele bate parma...
— É,,, Ele bate parma e ela late.
— Mais Fonso de Deus! O nome dela é PARMA-LATE!
— Parmalate..? Parma...
— Puis intão, Fonso, é a fabrica que compra nosso leite aqui prá fazê quejo, mantega, lá im Sanpaulo. Cê esqueceu?
O marido emudeceu e perdeu o entusiasmo. Murchou comu uma flor de chanana sob o sol do meio dia. Foi pro quarto, tirou as botas e não quis mais conversa. E matutava:
— Muié danada de intiligenti essa minha Zurmira. É mais intiligenti que a cachorrinha Parma... Parma-late! Oia, sô, qui danada.
Depois do almoço, ainda abichornado, Afonso foi no galpão onde estava a carroça quebrada. Trabalho a tarde inteira não conseguiu consertá-la.
— Ô coisa increncada! Vô tê qui i na cidade comprá umas peça. Mais in hoje num dá mais, só amanhã.
Fechou a enorme porta do galpão e, desarregaçando as mangas da camisa, ia prá casa quando chegou um rapazinho magricela e alto.
—' Tarde, sô Afonso!
— Ba’tarde, Zéfio.
— Tem um recado do pai pro senhor.
— Puis intão fala, rapais.
— Ele manda dize pra discurpá a conversa de hoje cedo, e qui amanhã crareando o dia ele tá aqui com a carroça e os cavalo mode levá as saca de mio pra venda do Juca.
O rosto de Afonso se abriu num risada boa.
— Puis intão, agradece prá ele e fala que eu num levei inconta o qui nois falô de manhã-cedo.
— Tá Bão! Intão, té manhã, qui eu também venho ajudá.
— Brigado, Zéfio.
O rapaz já virava as costas prá ir embora, quando Afonso gritou:
— Óia, dá um recado pro cumpade Zeca seu pai que minha muié a Zurmira acertou na mema hora que eu perguntei, o nome da cachorrinha. É PARMALATE, né?
— É sim senhor.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 30 de março de 2023
Conto # 1185 da Serie
INFINITAS HISTÓRIAS