A gratidão da vida (BVIW)
Quando criança ouvi, um certo dia, a seguinte expressão: “a vida pode ser doce como o mel ou amarga como um fel”. Na minha inocência, não entendi muito bem o que essa frase queria dizer, depois, fiquei sabendo, por meio de dona Salete, uma senhora que gostava de contar causos, do que se tratava. Foi assim: geralmente, nos fins de tarde, crianças e adultos sentavam-se na calçada da casa dela para ouvir suas histórias, por vezes divertidas e noutras, pelas lições de vida que as continham. Pois bem, eis que numa dessas histórias de dona Salete, eu entendi o sentido do mel e do fel, na vida de cada um. No enredo da narrativa daquele dia, havia uma senhora, jovem, bonita, com saúde, de família tradicional, bem-casada, com filhos saudáveis, morava numa casa confortável e o esposo provinha o sustento da família; em síntese, era uma pessoa normal e em condições mais favoráveis do que muitas outras que moravam naquela cidade de interior. Mesmo assim, essa jovem senhora reclamava de tudo e de todos. Segundo dona Salete, não havia um comentário, nas conversas de dona Inês, quando ela se encontrava com outras pessoas, que fosse sobre algo bom ou bonito que alguém fez, viveu ou viu. Ninguém era digno de um elogio seu e, quando se referia a sua vida pessoal, só falava de insatisfações, e se o assunto se referisse a outras pessoas, as reações eram de críticas, de apontar falhas ou fazer objeções. Enfim, não havia nada e nem ninguém que lhe parecesse digno de seu afeto ou reconhecimento, e nem nada que lhe causasse alegria ou motivo para celebrar. Aí dona Salete disse assim: “a impressão que eu tenho é a de que a Inês tem algum motivo para ter uma vida amarga como fel, ela parece não se permitir saborear o doce que é a vida, a dádiva do viver, não dando valor ao que realmente importa, como ter saúde, família e amigos, nada lhe parece digno de reconhecimento”. A partir daquele dia aprendi, de fato, o que adoça a nossa vida é a gratidão.
Iêda Chaves Freitas
22.08.2023.
Tema da semana – O doce da vida