A volta dos que não foram!!!

Naquela manhã de segunda feira após o segundo turno das eleições presidenciais, oito horas, Seu Luís abriu sua ótica na rua do comércio, vestindo sua camisa vermelha. Ele tinha aquele estabelecimento a longos vinte anos na cidade, na frente da sua, do outro lado da rua ficava a “Ótica Olho Vivo” do seu concorrente o seu João Chaves, falecido a dois anos.

Os dois divergiam politicamente falando, mas se respeitavam.

Seu Luís a tempos caminhava com dificuldade apoiado numa bengala, depois que levou uma picada de cobra jararacuçu no pé direito, tendo que amputar o dedo mínimo, enquanto passava o fim de semana na roça, ficou manco, quase morre.

Após conferir que estava tudo em ordem, cumprimentou todas as suas funcionárias. Sempre tomavam café juntos. Inclusive na ótica dele só tem mulheres lindas para fazerem o atendimento, eu só faço meus óculos lá, parece que ele contrata as meninas numa agência de modelos. Estando tudo em ordem ele resolveu dar uma caminhada pelo centro da cidade, ver os amigos comerciantes de longa data.

Atravessou na faixa de pedestre com dificuldade, até aparecer um motorista que parasse, agora só tem gente mal-educada e com pressa no volante. Ele vinha andando, parado na frente da ótica de João Chaves estava seu filho João Victor, que herdou o negócio da família, visto que era filho único. Estava vestido com uma camisa da seleção brasileira, de braços cruzados e com cara de poucos amigos, ao ver seu Luiz vindo na frente do estabelecimento ele gritou uma frase enigmática que o idoso decifrou:

– Não confio em ninguém, que não tenha dez dedos!

Ele parou de supetão diante do rapaz, colocou as duas mãos sobre o cabo da bengala para melhor se apoiar e disse sabias palavras:

– Meu jovem! Em respeito ao seu falecido pai, e pela admiração que nutríamos um pelo outro, eu tenho que lhe dizer que, o futuro líder da nossa nação possui dezenove dedos meu rapaz! DEZENOVE!

Batendo a bengala na calçada, ele retomou seu passeio matinal, mais a frente próximo a padaria murmurou:

– Semianalfabeto!