A Pedreira 

 

Havia um homem chamado Joãozinho, que já tinha vivido incríveis 88 anos. Embora fosse um idoso, sua curiosidade e espírito jovial nunca o abandonaram. Joãozinho adorava explorar o mundo à sua volta e aproveitar cada momento ao máximo. Certa tarde ensolarada, Joãozinho decidiu visitar a padaria local para comprar seu doce favorito: chocolate. 

Ao caminhar pela rua, Joãozinho percebeu uma pequena multidão ao redor de uma prateleira com produtos de limpeza. Curioso, ele se aproximou para descobrir o que estava acontecendo. Era uma promoção de raticidas. A visão do produto trouxe memórias antigas de quando ele costumava lidar com pestes em sua fazenda. Sem prestar muita atenção, Joãozinho pegou uma caixa de raticida, pensando que era algo completamente diferente. 

Chegando à padaria, Joãozinho percebeu seu erro, mas já era tarde demais. O veneno estava em suas mãos e ele havia ingerido uma pequena quantidade. Sentindo-se tonto e confuso, Joãozinho desmaiou ali mesmo. 

No entanto, o destino tinha outros planos para Joãozinho. Enquanto ele estava inconsciente, Deus olhou para baixo e viu a alma bondosa e cheia de vida de Joãozinho. Com misericórdia e compaixão, Deus decidiu dar a ele uma segunda chance. 

Quando Joãozinho abriu os olhos novamente, percebeu que não estava mais na padaria. Ele estava em um lugar celestial, cercado por uma luz brilhante e uma sensação de paz. Deus estava diante dele, sorrindo gentilmente. 

"Joãozinho", disse Deus com uma voz calma e amorosa, "Eu decidi te trazer de volta à vida. Mas desta vez, quero te dar a oportunidade de aprender a ler e enriquecer seu conhecimento. Viverás mais 300 anos, e nesse tempo terás a chance de experimentar todas as maravilhas da leitura." 

Joãozinho, embora inicialmente confuso, sentiu uma onda de gratidão invadir seu coração. Ele aceitou a oferta de Deus e, com um toque divino, voltou à Terra. 

A partir desse dia, Joãozinho embarcou em uma jornada de aprendizado e descoberta. Ele mergulhou de cabeça no mundo dos livros, devorando histórias de todos os gêneros. Com o passar dos anos, sua mente se expandiu, e ele se tornou um erudito respeitado. 

Durante suas décadas adicionais de vida, Joãozinho não apenas aprendeu a ler, mas também se dedicou a ensinar outros. Ele abriu uma pequena biblioteca em sua cidade, onde jovens e adultos podiam descobrir o poder das palavras. Joãozinho se tornou um pilar de sabedoria e inspiração para a comunidade. 

À medida que os 300 anos chegavam ao fim, Joãozinho estava inquieto. Ele tinha aprendido mais do que jamais imaginara, e sua alma estava repleta de conhecimento e sabedoria. Com um sorriso no rosto, ele fechou os olhos e com um uma dúvida tenebrosa que fluía por seu ser. 

Entrementes, após viver os 300 anos adicionais repletos de aprendizado e ensinamentos, Joãozinho alcançou a marca próxima dos 600 anos de idade. Ele tinha se tornado um sábio e era reverenciado por sua sabedoria e generosidade. 

No entanto, mesmo com toda a experiência e conhecimento adquiridos ao longo de sua vida, Joãozinho ainda tinha um lado travesso e uma propensão a cometer erros. Um dia, perto de completar os 300 anos a mais, ele encontrou outro saquinho de raticida, que havia sido deixado de forma descuidada em sua casa. Como se fosse um doce o consumiu inadvertidamente. 

Aconteceu novamente: Joãozinho caiu morto e inconsciente e mais uma vez teve seu encontro com Deus. Ao despertar, ele se viu em um local completamente diferente. Não havia luz brilhante nem sensação de paz desta vez. Em vez disso, ele estava cercado por montanhas de pedras e o som constante de picaretas. Ele estava em uma pedreira. 

Deus apareceu diante dele, mas desta vez seu rosto estava sério. "Joãozinho", disse Deus com uma voz solene, "Eu te dei uma segunda chance, mas você não aprendeu a lição. Agora terás mais 500 anos de vida, mas desta vez tua tarefa será trabalhar quebrando e carregando pedras nesta pedreira. É uma penitência pelos teus descuidos e falta de atenção." 

Deus saiu da pedreira caminhando lentamente com uma mão sobre o ombro do anjo Natanael lhe dizendo: 

__ Esse sujeitinho é não passa de uma besta! 

Joãozinho ficou atônito com a sentença. Ele lamentou profundamente seu erro e prometeu a Deus que aprenderia a lição dessa vez. Com determinação renovada, ele se aplicou ao trabalho árduo de carregar pedras pesadas. 

Deus nem perdeu tempo em ouvir a promessa de Joãozinho. 

Ao longo dos 500 anos seguintes, cada pedra de 300 toneladas que quebrava, Joãozinho aprendeu a valorizar cada momento, cada tarefa e cada oportunidade de redenção. Ele trabalhou incansavelmente, sempre com cuidado e atenção aos detalhes. Suas costas se curvaram, mas sua mente permaneceu ereta, altiva, alerta e receptiva ao conhecimento que ainda poderia adquirir. 

No final dos 500 anos, Joãozinho tinha se transformado em um homem humilde, sábio e grato por cada respiração. Ele tinha aprendido a importância de cada escolha e a responsabilidade de suas ações. E, finalmente, quando chegou o dia de sua partida final, Joãozinho partiu cansado de quebrar e carregar pedras, sabendo que havia se redimido e cumprido sua missão. 

A história de Joãozinho, apesar das dificuldades enfrentadas, tornou-se uma lição de perseverança e aprendizado. Sua vida foi uma jornada repleta de altos e baixos, mas ele encontrou significado em cada desafio e aproveitou ao máximo as oportunidades que lhe foram dadas. 

Assim, a saga de Joãozinho nos ensina que, independentemente das circunstâncias, é possível encontrar redenção e transformação pessoal através do aprendizado contínuo, da superação de nossas falhas e do compromisso em fazer a diferença, mesmo que seja carregando pedras numa pedreira.