AÇÃO E REAÇÃO
Contam que Nazinho, depois de muito sacrifício, conseguiu comprar um sítio abandonado pelos herdeiros dos antigos donos.
A bem da verdade, de aproveitável, só tinha o chão.
Todo resto a partir da porteira, em frangalhos, precisava ser refeito.
Com a disposição de quem quer realizar o sonho sonhado por muitos anos, Nazinho não esperou por tempo bom.
Trabalhou de sol a sol até que o sítio ficou como ele queria.
Belo, limpo e produzindo tudo para o sustento da família e para vender o excedente na feira semanal no pátio do mercado.
Venâncio, um rapaz ainda jovem, mas com o comportamento desse pessoal que vive largado pelo mundo, sem família nem pouso certo, toda semana ficava na barraca conversando, querendo saber das coisas que já tinha e do que ele queria fazer no sítio até que um dia pediu emprego.
Nazinho disse a ele que não tinha como pagar um empregado e que ele era bastante forte para dar conta das necessidades do sítio.
Depois de muita insistência, muita conversa, promessas e palavras empenhadas, ficou acertado que Venâncio, iria trabalhar seis dias na semana e receber a metade do dinheiro que conseguissem com as vendas na feira, além da comida e do canto para morar, mas esse acordo não durou um ano.
Venâncio pegou as tralhas dele e avisou que estava indo embora.
Iria trabalhar na construção de Brasília.
Ganhar muito dinheiro e talvez, arranjar um casamento com uma mulher endinheirada.
Nazinho elogiou a atitude dele e deu todo o dinheiro que estava sendo guardado para comprar mais duas, ou três, vacas para produzir queijo artesanal.
Na semana seguinte, Nazinho recebeu uma intimação para comparecer ao foro porque estava sendo acusado de manter um empregado sob regime de escravidão, que devia assinar a carteira de trabalho do suplicante, pagar os direitos trabalhistas pelo tempo de serviço, estimado em três anos, com as devidas correções monetárias, além de multa e honorários do advogado.
A mistura de sentimentos tornou a vida de Nazinho um inferno.
Mentiras, ingratidão, quebra da palavra empenhada no acordo, coisas inaceitáveis para uma pessoa honesta como ele.
Tudo o que possuía não dava para pagar nem a metade do que estava sendo pedido na justiça.
Só havia um jeito.
Fazer o acordo para Venâncio dar a quitação aceitando o sítio como pagamento.
Mas isso seria o fim do sonho acalentado por quase a vida toda.
Não era justo perder tanto trabalho para um vigarista aproveitador que sequer saberia manter o que estava dando certo.
Com a certeza de que teria ganho de causa, Venâncio resolveu aparecer pela rua com roupa nova, frequentava o bilhar e pagava rodadas de bebidas para os amigos e foi numa noite dessas que ao virar uma esquina, deu de cara com Nazinho que, sem falar nada, deu-lhe uma surra de cabo de chicote que o cabra ficou mole feito pamonha.
Quando cansou de bater, Nazinho avisou – você vai ganhar na justiça tudo o que eu tenho, mas desse dinheiro você não vai tomar nem um picolé. Eu vou ser preso, mas você vai para o cemitério no mesmo dia e se disser a alguém que eu bati em você, não vai estar vivo no dia da audiência. Experimente, para você ver do que eu sou capaz...
O que aconteceu depois foi que Venâncio viajou, não se sabe para onde, e a reclamação trabalhista foi arquivada por acordo extrajudicial...