Decifra-me, ou ...
Tio Antônio, nascido na Onça de Pitangui em agosto de 1917, sofreviveu a espanhola e chegou vivo ao Brumado, também de Pitangui, em 1924, acompanhando pais e a irmandade na esperança de vida melhor, com emprego na fábrica de tecidos. Sua escolaridade foi, com a vida e a lida, abaixo daquela das irmãs Isabel, Rita e Conceição, e empatada com a primogênita Vicentina e a caçula Lia, que chegaram a aprender as próprias assinaturas. Somente o petiz Luiz, rapinha do tacho, é que viria a se diplomar no primário.
Mas, mesmo em fase mais madura da existência, Antônio continuou se esforçando para aprender. Chegou a desenvolver um processo repentino de rimas com que deliciava os sobrinhos, tais como boboca com chicaboca, revista com normalista ...(hoje talvez, se apropriaria do bolsonarista com golpista...). Mas eram outros tempos e Antônio nem chegava a ser jocista ou juscelinista ...
Inobstante, Antônio, desenvolveu a arte do sopro, e fez parte da banda de música da Companhia, tocando bombardim. Se seus ensaios domésticos costumavam ser repudiados pelas irmãs, junto dos colegas, em apresentações de gala, se diluíam, e nem ouso dizer que se destacavam, se é que se ouviam... mas o entusiasmo, esse motor da vida, jamais esmorecia, ao contrário, só crescia.
Outra atividade entre o lazer e o cultural de tio Antônio era a leitura. Quase que exclusiva de uma única obra, que guardava com zelo insofismável: era o livro manuscrito, a que tínhamos raro e clandestino acesso. Esse livro compunha-se de algumas dezenas de textos de fundo didático e sobretudo moral, curiosamente vazados em grafias manuais bem legíveis e variadas.
Duma certa feita, numa bela manhã de sol, já colegial, encontrando-me em férias, no quintal da casa de meus pais, do outro lado da cerca - que era de tela de malha grossa, chegou-me a sonora pergunta de tio Antônio, que agora eu não saberia dizer se me inquiria de curiosidade ou para testar-me:
- Ô Paulo, o quê que é e-gi-pí-cio...?