OUTRA VEZ... O JOÃOZINHO ?!

OUTRA VEZ... O JOÃOZINHO ?!

"Novamente o Joãozinho / repetiu

o ano... / sobre História do Brasil /

só disse besteira / e "entrou pelo

cano" - DICRÓ (trecho de pagode)

Distinta leitora, leitor amigo, não iria eu anotar mais essa patacoada, se não fosse do Joãozinho. Aliás, nem me recordava mais dela, tem uns 40 anos que o fato sucedeu -- sim, FATO, evento real -- lá no interior do Pará, onde passei belas férias caçando e pescando na linda Santarém. Me foi preciso encontrar por mero acaso, em minha vasta biblioteca pouco visitada por meus filhos (nem falo dos netos, que só pensam em celular e games) os 6 alentados volumes sobre as coisas e pessoas de Santarém -- a Pérola do Tapajós -- escritos com carinho por meu quase-compadre Wilson Fonseca, entre outros.

Claro que o leitor desavisado não sabe que foi/é a figura mais famosa das terras do ilustre governador Dr. Fernando Guilhon, que você também (confessa logo !) nem imagina quem seja. Pois foi justo na época do prefeito Luís Ribeiro Pinto... pai dos jornalistas Lúcio Flávio e do homônimo que todos conhecem. É o que escreve no Diário do Pará, já lá se vão 20 ANOS !

Mas, voltemos ao Joãozinho... de "zinho" não tinha nada, era um homenzarrão taludo, tostado pelo "sol pra cada um" que a Natureza destinou a este enorme pedaço da Amazônia. João Charbell Tigre nasceu "gitito", menor que uma caixa de sandália franciscana e ficou pequeno por uns 15 anos... de repente, foi esticando e alargando, mais parecendo uma castanheira ou samaúma, porém permaneceu "Joãozinho". Diz o extenso volume 5 do "MEU BAÚ MOCORONGO" que o "causo" em tela -- foi FATO REAL (?!), já disse (*1) -- findou anotado no jornal mais importante da "santa terrinha do Çairé", aliás o único na época, nem por isso menos famoso. Sussuarana, escritor "pau pra toda obra" e com vários cognomes (é apelido, "anta" !) anotou em versos para a posteridade o final da estória, que conto desde o começo, quando este Joãozinho era igualzinho (senão seria Robertinho ou Paulinho, cacete !) aos "Joãozinhos" do resto do Brasil.

Joãozinho era "uma peste" e, sem correção alguma por parte do pais, cresceu causando todo tipo de incômodo e prejuízos aos vizinhos, aos amigos e até a desconhecidos. Sem ocupação decente e, fugindo do trabalho como vira-lata corre de água ou pedrada, findou... "delegado", num tempo em que não havia nem ladrão de galinhas. Hoje, se deixar bicicleta ou carro nas ruas, levam ao menos os pneus ! Joãozinho autodenominou-se "prefeito de polícia", instalando-se no prédio vazio da Cadeia municipal, 1 cela só mais saleta à frente... ninguém discutiu a escolha e os maiorais da Cidade "se cotizaram" para manter a "praga" ali, longe das confusões.

O Destino decidiu virar tudo "de pernas pro ar"... de repente, no cemitério local surgiu um fantasma, pés e cabeça de bode, olhos cintilantes, berro de arrepiar defunto, corpo envolto em alvo lençol. O cemitério ficava no centro do lugarejo, passagem obrigatória de tudo e de todos e "aquilo" estava apavorando meia cidade. Recorreram ao "delegado" "João Coragem", valentão que desafiava a todos e não tinha oponentes... ele "desconversou", fez "corpo mole", tudo aquilo era só imaginação das beatas sem ter o que fazer em casa. O terror continuou, "depois das 10" ninguém se atrevia a passar defronte ao campo santo.

Nova reunião dos maiorais... fariam eles uma "blitz" no cemitério na primeira noite de lua nova. Dito e feito: ocultos 3 ou 4 nos cantos do enorme muro, ao ouvir o tremendo berro correram todos para o portão. O fantasma apavorou-se... se meteu entre as alas de tumbas, quase voando, a galera atrás aos gritos de "pega", porrete nas mãos. Tropeçou, caiu... levando a primeira paulada berrou feito bode velho, logo era "de carne e osso" ! Lhe retiraram a máscara esquisita... surgiu o "delegado CHARBELL", que Joãozinho soava meio infantil. Surpresa imensa para todos !

Explicou que, para pegar o fantasma real, só sendo um "irmão"... ninguém acreditou na desculpa esfarrapada. Virou motivo de chacota na cidade, perdeu o "pro labore" as continua "delegado dele mesmo", a roncar nas tardes vazias.

"NATO" AZEVEDO (em 19/junho de 2023, 5hs)

OBS: (*1) - baseado em texto publicado no "JORNAL DE SANTARÉM" nº 1287, de 29/abril de 1967, este citado no vol. 5 de "Meu Baú Mocorongo".

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(Para quem não conhece por inteiro o pagode do DICRÓ, dos anos 70)

JOÃOZINHO E SUA HISTÓRIA

Dicró

Novamente Joãozinho repetiu o ano

Sobre história do Brasil

Só disse besteira

E entrou pelo cano

Disse que Pedro Cabral

Rezou a primeira missa

E Pero Vaz de Caminha

Não quis molho no pão com linguiça

Que Anchieta morava na Penha

E era cabo da marinha

Quanto ao rei Dom Manoel

Tinha um carro de praça

E criava galinha

Novamente Joãozinho repetiu o ano

Sobre história do Brasil

Só disse besteira

E entrou pelo cano

Tiradentes era protético

E por isso foi em cana

Protestou contra a pimenta

contra a gasolina e o angú à baiana

Depois deixou que a Lei Áurea

Fosse assinada pela Marta Rocha

Pedro II pintava parede

Passava o dia agarrado na brocha

Novamente Joãozinho repetiu o ano

Sobre história do Brasil

Só disse besteira

E entrou pelo cano

Ele disse que "Zé" do Patrocínio

Não perdia um jogo no Maracanã

Desfilava na Mangueira

E de Aracy de Almeida era fã

Ari Barroso fez independência

E Tamandaré foi ser beque do Vasco

Rui Barbosa comprava cerveja

Bancava o esquecido e ficava com o casco

Novamente Joãozinho repetiu o ano

Sobre história do Brasil

Só disse besteira

E entrou pelo cano