MARILIA DE DIRCEU.

 

     Todo mineiro, acredito, já ouviu falar ou já leu esse livro, se não, com certeza, e se esforçar, lembrará que o estudou, quando cursava o ensino fundamental. Estou a escrever sobre o livro que dá título a esse texto: “Marilia de Dirceu”; uma emblemática autobiografia poética, escrita em versos e prosas sobre a vida de dois pastoreiros, fundamentada na vida real do amor vivido por Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu, e Maria Joaquina Dorotéia Seixas, a Marilia. Como em toda boa história de amor, essa também não teve a complacência da família dela, o relacionamento era totalmente desaprovado pelos parentes de Maria Joaquina, essa difícil situação, ajudou “Dirceu” na composição e inspirou o livro, lançado em Lisboa no ano de 1792. O livro pode-se afirmar, foi dividido em partes, na medida em que os acontecimentos se afloravam no cotidiano do casal. Em suas primeiras paginas Tomás Gonzaga descreve sua paixão por “Marilia”:

 

“Os teus olhos espalham luz divina, a quem a luz do Sol em vão se atreve...”.

 

     Em suas paginas centrais, Tomás Gonzaga descreve sua solidão na prisão, fora preso ao ser delatado por participar e se envolver no movimento da Inconfidência Mineira:

 

“Nesta cruel masmorra tenebrosa, ainda vendo estou teus olhos belos...”.

 

     Nas paginas finais Tomás Gonzaga descreve em tom carregado de desesperança e abatimento sua separação de “Marilia”, ao ser deportado para a África em Moçambique:

 

“Chegou-se o dia mais triste que o dia da morte feia; caí do trono, Dircéia, do trono dos braços teus; Ah! não posso, não, não posso dizer-te, meu bem, adeus!...”.

 

     No decorrer dos anos, em sua nova morada, Tomás Gonzaga, acostumou-se com a vida longe de seu país e de sua amada, até casar-se com a filha de um grande comerciante moçambicano. Apesar da nova vida, sua amada “Marilia” nunca lhe saiu da cabeça, morreu aos 65 anos de idade, no lugar para onde fora deportado e de onde não pode mais sair.

 

     Maria Joaquina, a Marilia, em nenhum momento foi mais a mesma, não houve outro em sua vida, morreu aos 85 anos de idade, no mesmo local onde nascera, Ouro Preto. Há relatos históricos que dizem que após a prisão e deportação de seu “Dirceu”, “Marilia” aos finais das tardes, com o sentimento de saudade a lhe aflorar da alma, se deslocava até o “Mirante da Ponte”, em Ouro Preto; local onde se encontrava, antes dos terríveis acontecimentos, com seu amado e entre um suspiro e outro relembrava seus doces momentos naquele local. Hoje esse local também e chamado de “A Ponte dos Suspiros” e guarda alguns segredos de duas almas dispersas pela vida. (Foto acima).

 

JLeal
Enviado por JLeal em 19/05/2023
Reeditado em 19/05/2023
Código do texto: T7792022
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