O relógio do ancião
Cheguei em casa meio abatido, não só por ter comprado dez relógios falsos, mas por ter sido enganado em Fortaleza por dois velhinhos.
Contei à minha mulher o que acontecera na Praça José de Alencar... Ela, porém não levou a sério.
- Não acredito que você se deixou enganar por dois caducos!
- Pois fui. Olha aqui o produto!
- E esse relógio de mulher?
- Bom, esse era pra você, mas não vou querer que use essa merda!
- Vou vender todos sem enganar a ninguém. Quem me comprar vai saber que tá comprando um ômega falso.
- Assim você não vende nenhum!
- Vendo!
- Você mesma deveria me pagar o seu, pra diminuir o prejuízo.
- Posso até pagar, mas não vou usar essa porcaria.
- Contanto que me pague. Faça dele o que você quiser.
Estávamos ainda olhando os “coelhos comprados por lebre”, quando chegou meu cunhado Francisco José. Contei toda história, sem nenhum receio de virar alvo de chacota, ele não conteve o riso e soltou uma gaitada. Todos riram, inclusive eu.
- Maninho,você caiu no “Conto do Vigário”, mas pelo preço que você pagou, fico com dois.
Vou vender-lhe os dois relógios, mas você está consciente que são falsos.
Dava pra vender os relógios falsos por verdadeiros, mas nunca enganei a ninguém. Quero chegar à velhice sem me envergonhar do passado. Vendi dois relógios a meu cunhado.
Por mais que se procurasse conversar sobre outros assuntos, a história dos anciãos voltava à tona e o clima de riso tomava conta da casa. Entrava um assunto, depois vinha outro, mas de vez em quanto alguém perguntava.
-Como que eram esses velhinhos?
- Sei lá!
- Algum deles usava bengala? - Aí pronto, estourava a crise de riso...
LIMA, Adalberto; SILVA, Francisco de Assis, et tal. O Brasil nosso de cada dia.