Uma dúzia
De quinze em quinze dias eles iam na cidade vender os trem que produziam.
Tinham u'a terra lá pros lados do Córgo Limpo e lá eles plantavam verduras, milho, mandioca, feijão, criavam galinha, porco e menino. Dez meninos. Nove de barriga e um de criação, sobrinho da Germaninha, filho da irmã dela, a Aurora, que tinha uma perna mais curta que a outra e que morreu no parto, judiação.
Pois é. Sexta-feira era o dia. Germaninha e Chico da Criôla subiam na carroça, mais os meninos, uns no colo dos outros, e iam levando polvilho, mandioca, toucinho e ovos. Na cidade, iam direto na venda do João Grosso, encostavam a carroça, apeavam e levavam os trem lá pra dentro da venda e trocavam por outros que não tinham na roça. Nesse dia o Pedrinho da Venda ficou só com quatro dúzias de ovos. Sobrou uma dúzia. Germaninha, não querendo voltar pra roça com a dúzia que sobrou, pensou em vender pra dona Judith do Bem, que morava lá perto, na outra ponta da rua. Carregaram a carroça com os mantimentos e a meninada e lá foram. Encostaram a carroça, apearam e Germaninha chamou, batendo palmas. A Santa foi atender, a
oferta foi feita. Nesse meio tempo a dona Judith chegou, assuntou, precisar não precisa, porque o Vicente tá criando umas galinha boa de botar, mas, coitada da Germaninha, paga ela, Santa. Uma dúzia, Germaninha? Quanto que é? Santa, traz uns biscoito pra esses menino.
Eles ficaram um tempinho por ali, fazendo hora, falando da falta de chuva, do mata-burro quase quebrado, da morte da bezerra... Então nós já vai, Santa. Dona Judith, nós já vai,
Deus te pague a senhora.
Uai, vai não, tá cedo. Espera procês almoçar. Esperaram.
Em casa de mineiro é assim.
Põe comida no prato pros menino, Germaninha. Ajuda ela aí, Santa.
Ô Santa, 'num' põe carne, não. Hoje é sexta-feira e nós lá em casa 'num' come carne... Se ocê pudé fritá ovo... só um pra cada um tá bão...
A Santa pegou o balainho de ovos e contou quantos não comeriam carne: dez meninos, mais o Chico e a Germaninha. Doze. Uma dúzia.