BOTÃO
— Num momento, aberrações, noutro, tolos estimaveis. A oscilação ziguezagueante, tentando descobrir nossa missão na terra beira ao delírio esquizofrênico. Para quê viemos? Para onde iremos?
— Não faço ideia, não tenho bola de cristal. Odeio isso tanto quanto você, estamos no mesmo barco.
— Não te frusta não saber o que vai acontecer quando a morte bater na sua porta?
— Apenas me dê o Donut com cobertura de chocolate, cara, e depois me pegue aquele baseado ali, ô. Por favor! Ninguém merece viver sem algum tipo de escapismo, a vida meio que te obriga à isso. Por isso uns se viciam em drogas, outros em sexo, outros em pornografia, outros em comida. Falando nisso, passa aquela Coca-Cola ali, ali porra, bem do lado da televisão, para de lerdeza. Valeu.
— Um botão. Queria um botão.
— Para...
— Sumir, alcançar de uma única vez todas as etapas da evolução espiritual. Não nascer. Um botão que me levasse ao infinito, para o centro do universo onde eu pudesse ser uma consciência cósmica detentora de todo o saber que eu precisasse adquirir, sem necessariamente vir para essa terra maldita. Desculpa terra, a culpa não é sua, a culpa não é do planeta, mas sim dos demônios que te habitam. Odeio que Deus tenha me posto num lugar onde não me encaixo. Eu poderia estar com os Sirianos agora, poderia estar na Constelação dos Pleiadianos. De certo que eu já teria atingido o nirvana e transcedido, se estivesse num desses lugares. Ou talvez eu simplesmente quisesse um botão para simplesmente sumir, deixar de existir num passe de mágica, voltar ao útero de minha mãe e deixar que outro ser azarento vencesse a corrida da vida...
— Cara, calma lá, tu tá viajando.
— Eu sei, e ainda nem dei um trago...