GEMINIANOS

 

Dia desses, às cinco da matina de um dia normal, embora para geminianos não existem dias normais, estava sozinho no ponto de ônibus, quando uma garota, linda, diga-se de passagem, se aproximou com a suavidade de um colibri. Ela usava um perfume diferente com um aroma leve, sensual e inebriante, desses das Rúbilas das florestas secundárias de Vênus, quem sabe? Pensei em puxar assunto, logo eu, um geminiano, puxar assunto, e ri sozinho por dentro, então logo desisti, pois vai que ela esperava um namorado ou namorada ou os dois, sei lá! Ela nem olhava pra mim! O miserável do ônibus não vinha, o silêncio era cortante e aquela situação me consumia os parcos neurônios. Resolvi perguntar...

— Com licença, a senhorita também vai pra Pirenópolis?

A segunda pergunta veio do arquicôncavo absconso do meu cérebro...

— Por que você não fica calado, idiota? A voz ecoou — E foi endereçada a mim mesmo, é claro! Neste momento ela se virou para mim e “disse”, pelo menos acho que disse, numa espécie de dialeto estranho e lânguido, rouco, lídimo e ao mesmo tempo bandalho...

— Gêminum Gêmini Ħ ∆wak ¥°°∆¥ rawak iny‡®ksA in¨kiĦp¬p! Depois disso, um bip e um chiado parecendo a Rádio Eldorado do Campo fora de sintonia. Dois segundos depois, estava eu no ônibus para uma tal Cidade de São José do Cajueiro Pequeno, totalmente fora de curso, suando frio, pernas bambas e pensando por que eu não fiquei calado.

 

 

MARCANTE, Alexandre.

ams©Publicações & Casa das Letras.

Todos os direitos reservados.

 

 

Alexandre Marcante
Enviado por Alexandre Marcante em 22/03/2023
Reeditado em 22/03/2023
Código do texto: T7745862
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.