OS DIVERSOS PONTOS DE VISTA SOBRE O MESMO SAPO

OS DIVERSOS PONTOS DE VISTA SOBRE O MESMO SAPO

(by Phaedrus)

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1. O fato

O Sapo é notório bicão em festas no céu, como reza a conhecidíssima fábula.

Desprovido de asas, utiliza-se das mais variadas estratégias para conseguir os seus objetivos de penetra. Pega carona nos instrumentos musicais da orquestra de aves que anima aqueles rega-bofes, aproveita tudo com a maior sofreguidão e - na hora de voltar à terra, é sempre descoberto e expelido rudemente do veículo transportador, a grandes alturas.

O resultado? Esborracha-se no chão, feito caquí mole.

2. O Sapo, visto por ele mesmo

- "Sou boa praça! Sempre fui!

Vivo pulando daqui a acolá, cantando o meu coaxar nos brejos da vida.

Adoro tudo o que é festa, e fico sinceramente injuriado quando, por algum motivo alheio à minha vontade, eu não sou convidado (a bem da verdade, às vezes não tenho o "cacife" apropriado para freqüentá-las, então dou o meu "jeitinho").

Daí, vamos dizer assim, esta minha estranha compulsão pelas festas no céu, onde há do bom e do melhor.

São as mil mordomias, as inacreditáveis sinecuras, os dinheiros das propinas e das mamatas entrando no bolso à rodo, enfim - não resisto às grandes tentações que o poder dá. Somente aqueles que vislumbraram algum dia a Xanadú, a celestialmente bela face do Olimpo, sabem do que eu estou falando!

Infelizmente vez ou outra eu sou descoberto, devido ao grande peso daquilo tudo que procuro carregar nos meus bolsos e barriga.

Nessas horas, o meu destino é líquido e certo, conforme regula a Lei da Fábula:- sou jogado, inapelávelmente, ar a fora. Sem possuir asas, esborracho-me no chão."

3. O ponto de vista da Princesa (a esposa do Sapo)

- "Apesar de feio, sempre achei o Sapo muito engraçadinho! E inteligente!

Eu mesma era pobre, apesar do meu "pedigree" - de ancestrais que tinham sangue azul e muito, mas muito honesta!

Saí da casa paterna só para casar-me com ele, selando aquele beijo que o transformou em príncipe.

Vivemos por algum tempo de maneira humilde, trabalhando duro para ganhar o pão nosso de cada dia.

Porém, um belo dia, ele foi a uma festa no céu.

Voltou para casa empanturrado, cheio de presentes para mim e para os principezinhos, nossos filhos. Acostumou-se àquela vida de festas.

Eu nem reclamava! Afinal, gosto de fartura, carro importado, viagens intercontinentais, apartamentos de cobertura em Miami e tudo o mais o que uma princesa como eu, merece.

Quando recebo a notícia do seu esborrachamento no chão, fico inconsolável - nem sei bem se pela perda do marido, ou pelo motivo de ter que voltar àquela vidinha humilde, sem sal, esgotada a fonte do maná que o sapo trazia das festas no céu."

4. A opinião dos outros bichos

Quando depararam-se com o esborrachamento inapelável do Sapo, alguns bichos que também freqüentam clandestinamente as festas no céu, ficam morrendo de medo. Temem pelas próprias peles. E ficam quietos.

Outros, condenam e berram apenas "da boca prá fora", pois nutrem o secreto desejo de - um dia, se for possível - também "fazerem uma boquinha" naqueles gloriosos festins do céu.

Alguns poucos bichos concordam com o fabulista:- o destino dos bicões não convidados é esborracharem-se no chão duro.

5. A conclusão do Fabulista

Qualquer semelhança entre a Fábula do Sapo e o que ocorre nas diversas esferas do Poder Público Brasileiro, pode não ser mera coincidência.

(Copyright by Phaedrus - 2001)