ARRANJE OUTRO!
Após alguns dias do falecimento de meu marido, fui visitar minha mãe que estava residindo com meu irmão. Mamãe não foi ao velório e nem ao enterro por estar já bastante idosa e debilitada. Somente se locomovia em cadeira de rodas e achamos por bem não levá-la às cerimônias fúnebres.
Como disse, fui visitá-la, ainda bastante abalada pela recente perda. Mamãe permaneceu lúcida até seus últimos dias. Após cumprimentá-la, falei do acontecimento e de como me encontrava triste e desolada. Ela me ouviu e disse que também sentia, pois gostava muito do genro. Após um longo silêncio, me olhou e disse, sem rodeios:
-Arranje outro!
Eu fiquei espantada e chocada. Comecei a chorar...Não esperava essa reação. Senti-me ofendida e indignada com suas palavras, pois a morte era tão recente e eu estava devastada. Disse-lhe que não pensava nisso e nem tinha intenção de me casar de novo.
Passados alguns meses, mamãe também se foi. Eu, que estava um pouco mais conformada com a primeira perda senti-me, então, totalmente desamparada. Não tenho filhos e havia perdido as duas pessoas mais próximas.
Após um ano desses fatos, mudei minha forma de pensar. Mamãe não quis se casar após ficar viúva. Tinha filhos e netos que preenchiam seus dias. Tive um casamento feliz e toda vez que punha a mesa para comer sozinha eu chorava. Sentia-me só, de verdade.
Aposentada, para me ocupar, comecei a escrever crônicas, contos e poesias que postava no Recanto das Letras. Passei a interagir com outros poetas e escritores e, foi aí que conheci um viúvo, jornalista, alguns anos mais velho que eu, de São Luís – MA. Suas filhas, todas independentes, não viviam com ele, que morava solitário em uma grande casa.
Ficamos cerca de um ano conversando pela Internet, depois ele veio me conhecer em Curitiba. Resumindo: vivemos juntos há oito anos, um cuida do outro, a parceria tem sido boa. Ter alguém para partilhar a vida, muda tudo.
Hoje, penso que mamãe tinha razão, preocupou-se comigo e não queria me ver só.