VIDAS CRUZADAS
VIDAS CRUZADAS
Autor: Moyses Laredo
O começo de tudo ainda foi na roça, lá que tomou visão da consciência de sua existência, isso já bem menino de nove anos, não sabia nem o porquê de estar ali, era como se no seu eu, não se reconhecesse, era uma alma dentro de um corpo, tudo muito estranho, esse tipo de pensamento. Quantas vezes contemplava o céu estrelado imaginando quem seria, como tinha chegado até ali, olhava seus braços, sentia as mãos, via tudo como se estivesse olhando através de um binóculos, coisa que não conhecia ainda, tirou essa conclusão tempos depois quando da cabine do rebocador, olhava os caminhos tapado pela canarana (tapagem) ai fez a comparação. Tinha muita curiosidade em saber mais sobre si próprio, no entanto, acabava sempre seguindo com a vida da maneira que era ditada.
De manhã cedinho, saltava da rede a enrolava e prendia no esteio central de acariquara, bochechava uma cumbuca d’água dormida da cabaça maior de cima do jirau, depois, engolia um café, do bule de alumínio requentado na chapa da beirada do fogão à lenha, com beiju de farinha que sua avó preparara na semana passada, metia os pés num par de sapato de látex, dava com a mão num embornal, pegava no cambão com a trouxa da boia amarrada na ponta, punha ambos no ombro e acompanhava seu pai para a roça, sempre em passos largos, não sabia o porquê de tanta pressa. Pegavam sempre o mesmo caminho que saía por detrás da pocilga de paxiúba onde criavam uns bacorinhos de catetos pegados em armadilha com milho. De lá, só retornavam quando o sol caia por detrás das castanheiras, a uma légua de beiço do roçado. Em alguma épocas do ano, o sol rodava fazendo um meio giro, “prum lado e pro outro”, mas sempre por aquelas bandas dacolá. Quando via a sombra de sua cabeça nos pés, já era a hora de armoçá, avisava seu pai. Então pegava o cambão, desamarrava o nó da ponta que a mãe deu, levando-lhe a trouxa da boia e seu pai dividia pra os dois o que tinha dentro, sempre lhe dava a melhor parte da mistura.
Dos seis aos doze, essa foi sua rotina diária, aprendeu a ler nas aulas de domingo da igreja, juntamente com outras crianças, sentava-se de meia bunda, por ter só um tamborete, com uma menina zoíuda de cabelos encaracolados quase pixaim, juntos se cooperavam também nos deveres. Ele até já fazia umas continhas de chegada, mas pena que as aulas era só um dia na semana, mas depois da missa, o padre servia uma gororoba (comida arranjada de baixa qualidade) para as crianças e pela tarde tinham as aulas que começavam sempre com a de religião, depois, vinha as que ele mais se interessava. O resto da semana passava treinando o que aprendera.
Um certo dia, não seguiu seu pai, tomou outro rumo pra nunca mais voltar, tinha prometido pra si várias vezes que um dia faria isso. Foi bater no beiradão a umas boas légua dali, ficou à espera de um barco qualquer, só queria sair dali. Nesse dia apareceu o rebocador que empurrava uma balsa metálica enorme, que por ali passava de descida (a favor da correnteza) carregada, fazendo a maior banzeiro, mais parecia um monstro engolindo as águas, de longe se via aquela espuma branca na proa, era uma novidade pra quem não tinha nenhuma. O rebocador sempre voltava com ela vazia na subida (contra a correnteza), mas, mesmo assim, fazia uma zoada medonha, agora parecido com ferro agonizando, uns gemidos metálicos abafado pelo ronco do esforçado motor MWM que só se ouvia quando a balsa passava toda por ele. Ele deu com a mão, nunca obteve resposta, não que ele esperasse que o homi do barco parasse, fazia-o mais por brincadeira de menino. Foi com o maior espanto, quando viu a balsa reduzir a velocidade, desviar do rumo e vir em sua direção, depois, parou com uma desbarrancada brusca, derrubando uma lera de barro solto, assustado, levantou os olhos e viu alguém lá dos fundos, de dentro da janelinha do rebocador, acenar pra ele, como se tivesse puxando o ar pra si com u’a mão, ele entendeu o recado, não se fez esperar, saltou na balsa correndo até ao rebocador, a cada salto que dava na chapa quente da balsa vazia, o barulho soava como o som de um velho surdo (tambor) e o sapato de cernambi esquentava cada vez mais. A pessoa que o chamara era o comandante, conhecido por todos como Mestre Arrais, um homem de poucas palavras, assim que se encaram, foi logo perguntando se queria trabalhar mais ele no rebocador, estava precisando de um ajudante de cozinha, pagava 100 reais por semana, dava uma rede e três pratos de boia por dia (no rebocador não havia pão, o café era um “catrapiado” (mistura de qualquer sobra da janta, com farinha). Ele não conhecia o valor do dinheiro, o seu pai nunca lhe falava nada a respeito, só sabia que era preciso ganhá-lo para poder comprar as coisas que faltavam em casa.
Topou com um aceno de cabeça, já que não havia mais uma casa para voltar e além disso, estava com muita fome. O mestre, mandou que se apresentasse ao cozinheiro e dali mesmo, puxou com força a manete da ré, levantando um redemoinho de lama na barranca, a imensa balsa pesada respondeu de imediato ao comando e começou a se arrastar despregando-se do atoleiro e lentamente se encaminhou para a calha do rio onde a correnteza é menor, e de lá, o mestre soou a campainha de toque máximo avante que ressoou direto na casa de máquinas e sumiu daquele pedaço de rio.
Já debruçado na grade da popa do imenso rebocador, via no seu campo de visão, cada vez ficar menor o lugar que passava horas andando para chegar no beiradão, deixando a imagem onde ele a poucos acenava, bem distante. Nesse momento compreendeu que não havia mais volta e que tinha tomado sua primeira decisão na vida, dessa vez se deixou levar porque era de sua vontade, sentia de fato que estava indo ao encontro do seu futuro, não sabia aonde isso iria dar, mas tudo que fosse fora daquele mundinho era muito melhor. Conheceu o cozinheiro que lhe ofereceu um farto prato de baião-de-dois com jabá, chamado de jardineira, um pouco ensebado, mas com a fome que estava, mastigou tudo e jogou para o estômago que desde as cinco horas da manhã não via nada além do café com beiju e olhe que já passavam das duas da tarde.
Sua rotina diária era sem comparação mais leve do que a que tinha com seu pai, a enxada de três libras ainda pesava nas suas mãos calejadas, elas é que contavam sua história. Agora não, tinha tempo de sobra principalmente quando a balsa viajava vazia de retorno, até tempo tinha para estudar nos parcos e amarelados livros da cabine do mestre arrais, que gentilmente permitiu que os lesse. Os livros eram dos assuntos mais variados possíveis, desde geometria, geografia, matemática, física e até revistas de moda entrava na sua leitura. Eram as ditas revistas que os passageiros deixavam esquecidas ou sem mais interesses. O comandante também acomodava uns passageiros nos camarotes do rebocador, dois de cada lado, um deles, era do mestre arrais, que assim conseguia mais uma renda. Dessas leituras melhorou muito sua grafia, ampliou seus conhecimentos gerais, sem contar que além de tudo, era um verdadeiro autodidata em matemática, entendia tudo somente com os exemplos, às vezes se valia do cozinheiro, homem viajado, que conheceu o mundo virando castanhas nos porões dos navios. Ele foi um dos milhares estivadores que viajavam nos porões dos navios transportando castanhas brasileiras (bertholletia excelsa) virando-as, com enormes pás. Os montes de castanhas precisavam ser revirados constantemente para não apodrecerem, jogavam tudo para um lado, depois traziam-nas de volta e assim, passavam um a dois meses inteiros nessa atividade, até chegar no porto de descarga que poderia ser o Porto de Londres no rio Tâmisa, Inglaterra, ou o Porto de Hamburgo no rio Elba, na Alemanha.
Ao tomar conhecimento das suas habilidades, o mestre arrais que também era o proprietário do rebocador, encarregou-o da contabilidade geral da embarcação, melhorando seu salário, ele cuidava do combustol (diesel), do rancho, dos materiais de limpeza, dos ordenados dos trabalhadores, da manutenção da embarcação e principalmente do lucro final. Nessa atividade sua vida ficou mais confortável, o comandante reservou-lhe um dos camarotes que ali se instalou com sua Olivetti Lettera e uma máquina de calcular/somar Facit de manivela.
Ao atingir a idade de vinte e dois anos, foi o tempo em que o mestre resolveu também vender a embarcação, alegou cansaço e se retirou para uma propriedade que havia comprado, nela, disse que criava de tudo, inclusive um “gadinho” como se gabava. De quebra também convidou seu ajudante que muito colaborou com o seu sucesso, porque antes dele, perdia muito dinheiro, não sabia quanto ganhava e quando gastava, depois do controle do seu ajudante, pode ver com clareza onde vazava seu dinheiro e por fim, conseguiu calafetar tudo, daí os lucros apareceram e floresceram. O jovem agradeceu a gentil oferta, porém disse que primeiro precisava voltar para rever sua família, ele que não gastava nada do que ganhou, uma vez ou outra, comprava uma muda de roupa, tinha conseguido juntar um dinheirinho suficiente para ver se assim dava uma ajuda ao pai.
A despedida foi breve mais muito emotiva, recebendo uma gorda gratificação além da indenização. Logo tomou o rumo de casa, voltou justamente na mesma balsa que um dia o levou para conhecer a outra vida. Desceu no beiradão e dali se encaminhou pelo varadouro andou umas duas léguas (quase dez quilômetros) e foi bater na sua antiga casa, olhe que já se passavam mais de dez anos do último dia que dali saiu. Parou antes para observar o local, viu que as coisa quase não saíram do lugar, a mesma goiabeira, as velhas castanheiras, o terreiro com as roupas no coradouro de arame liso que numa ponta era amarrado numa vara de mulateiro e na outra no coqueiro, reconheceu a antiga pocilga, a casinha de taipa onde moravam, enfim, tudo no mesmo lugar, só faltava ver seus pais, o coração começou a pulsar mais rápido quando se aproximava, não sabia qual seria a reação deles, mesmo assim foi se aprochegando, deu a volta na casinha até dá de cara com sua mãe no jirau, que ao vê-lo deu um salto pra trás, achando ter visto visage ou sua alma penada atrás de reza, mas logo se recuperou desceu os três degraus da cozinha e apertou-o com um forte abraço chorando muito, notou como tinha crescido, agora já era um homem feito. Ele perguntou pelo pai, que lhe respondeu ainda está na roça, voltou a chegar à tardinha agora que arrumou um ajudante, como sempre fazia no seu tempo, então ele disse, - “Eu vou lá com ele”, arriou a pesada mochila na varanda da cozinha, como sabia o caminho da roça, se mandou em saltos largos, não demorou muito encontrou com o seu pai, um pouco mais velho, já com os cabelos começando a “engrisalhar” (ficar grisalho), mas, ainda muito esperto. O velho ao vê-lo fechou a cara, virou o rosto para o que fazia, o rapaz se aproximou e com jeito disse que saíra para conseguir alguma coisa a fim de melhorar a vida de todos. O seu velho pai parou o que fazia, se virou pra ele, perguntado...- E conseguiu alguma coisa de boa? – Sim meu pai, juntei um dinheirinho que dá pra gente fazer muitas melhorias aqui, vamos pra casa que eu lhe conto tudo. O pai disse-lhe que precisava aguardar o novo ajudante que estava ajeitando uma coivara mais acima, preparando o terreno para plantar o milho, e que fosse esperá-lo em casa.
Meia hora depois, seu pai chega e traz consigo o tal do ajudante, mas qual foi o seu espanto ao ver sua antiga colega de igreja ali na sua frente, aquela que dividia o mesmo tamborete, já um moça formada e como ficou bonita, manteve ainda os cabelos que agora eram ondulados bem compridos, nesse dia estavam presos feito um cocó mas solto-os ao entrar em casa. Ela muito envergonhada sorriu e estendeu a mão para cumprimentá-lo, foi um encontro fugaz, despediu-se e seguiu seu caminho, morava perto dali, umas duas léguas e meia.
Depois da janta ele distribuiu os presentes que trouxera e começou a contar sua história para os pais, mas antes, quis saber “- Porque não disse que era uma mulher que o ajudava?” o pai então lhe respondeu-lhe: - “Meu filho, porque ainda não inventaram a palavra ajudanta” riram todos, mas depois retornou à sua história, não poupou nenhum detalhe, depois, mostrou um papel do Banco onde estavam suas economias. O seu pai não entendeu o número porque nunca havia visto nada com tantos zeros. A partir de então, reformaram a casa com tábuas serradas, um luxo pro lugar, mudaram as palhas da paxiuba para zinco, forrou com lambril, cada qual com seu quarto, uma nova cozinha ampla, uma pocilga de cimento, mais porcos, uma revoada de galinha poedeira, instalou um pequeno gerador e por ai vai. Quanto mais melhorias ele fazia mais o dinheiro aparecia, parecia que não acabava, ele também aprendeu a aplicar, usava apenas os rendimentos. No final do ano, fez o registro das terras do pai, uma fortuna, coisa que não tinha antes, pode pôr fim cercar com moirões e arame, agora sim as terras eram deles, quem não registra não é dono. As melhorias não acabavam, seu pai não se continha de alegria com o filho. Nesse ínterim sempre iam para a Igreja, os pais com um objetivo, ele com outro, queria rever a amiga e isso era o que sempre acontecia depois da missa, saiam pra conversar. Um belo dia, chegou em casa eufórico e pediu para falar com seus pais, disse que tinha uma notícia pra lhes dar, queria se casar com a garota dos cabelos encaracolados, que ainda ajudava seu pai.
O sorriso nos rostos dos seus pais se apagou na hora, ficaram pálidos de repente, o semblante de ambos mudou repentinamente, apenas a mãe se manifestou: - “Mas meu filho, você não pode se casar com essa moça” …silêncio total, veio a resposta aflita, - “Mas porquê?” ...seu pai que estava calado esse tempo todo, falou com a voz rouca, “- Meu filho, porque ela é sua meia-irmã!”, ela é fruto do meu antigo ajuntamento, a mãe dela morreu de parto e o padre a criou, eu nunca soube de nada, estava numa tarefa de desmate tirando pau pra serraria, passei uns dez pra onze meses. Quando voltei soube de tudo, me desesperei, era muito jovem, larguei tudo e fui embora, desde lá nunca tive coragem de falar a verdade pra menina. - “Mas pai, o senhor quando partiu pra sua “empeleitada” (empreitada) não soube que sua mulher ficou de bucho?”, - “Não, nunca soube!” respondeu-lhe... – “Mas pai, como o senhor tem tanta certeza que é sua filha? – “Rapaz, o padre foi que me disse”. O jovem fez as contas e concluiu que havia alguma coisa que não batia, se passou dez ou onze meses fora, então quando saiu a mulher já estava “prenha” (prenhe) nesse tempo todo não notou nada? As regras dela não falharam? Ficou com a pulga atrás da orelha, então resolveu tirar a teima com o padre, disse resoluto! - “Vou lá conversar com ele”.
No dia seguinte acordou cedo, arreou (colocar os arreios) o cavalo, nova aquisição, e foi ter com o padre na igrejinha, aliás, o padre sabendo do seu sucesso, já lhe passou o pires na última missa para a reforma da sacristia que estava caindo na sua cabeça. Prometeu ajudar sim, mas só no aniversário de sua aplicação.
Quando lá chegando, o padre o recepcionou abrindo um largo sorriso, deixando expostos por um bom tempo, seus dentes miúdos e amarelados, em seguida o convidou para um café que disse ter acabado de passar, era coisa boa, ele mesmo tinha torrado. Sentaram-se à mesa, o padre puxou o bule e a caneca de esmalte verde, encheu-a e repassou pra ele, fazendo o mesmo para si. O padre começou a explicar as mudanças na igrejinha que queria fazer apontando “praqui e pracolá”, disse que o sonho era botar um forro de tabique porque no verão era um forno aquilo ali, como também, uns dois ventiladores de teto, que era moda, e que ele tinha visto na paróquia vizinha e é claro, um pequeno grupo gerador. O jovem esperou pacientemente o padre explanar tudo calmamente, mas com os nervos à flor da pele, engoliu o café já quase frio que de tão ruim que estava, nem mesmo se importou com o amargor. Assim que terminou, o padre se virou pra ele e fez a tão aguardada pergunta, - “Mas você meu filho, a que devo sua visita fora de hora? Ele começou pacientemente, não queria mexer nenhuma pedra errada do tabuleiro da sua vida, pra não assustar o padre, sua mãe dizia que quem quer pegar a galinha não faz “xô”.
Sabe padre, tem uma questão que hoje é pra mim muito importante, tanto quanto na mesma dose do seu desejo de reformar a Igreja. Atiçou a curiosidade do padre, agora tinha toda sua atenção, perguntou-lhe embrulhando os dedos: - “Sim, meu filho mas qual é essa questão?” ... continuou a massacrar o padre, - “O senhor sabe que hoje, para os padrões locais, sou um homem rico, tenho leituras, algum patrimônio e alguns reais aplicados em poupança, mas no entanto uma dúvida cruel me assola, o senhor já deve saber do meu interesse pela aquela moçoila dos cabelos encaracolados que frequenta aqui”. Ontem manifestei a vontade em desposá-la a meus pais o que veio a despertar neles o maior dos espantos, disse-me que eu estaria praticando incesto porque ela seria minha meia-irmã. No meu íntimo, não acreditei, Deus não iria me pregar essa peça, de me fazer gostar dela para depois negar seu amor. Além do mais, fiz umas contas de chegada e não batiam as datas da gravidez, a saída do meu pai para a empeleita, com a idade dela. O padre de olhos arregalados ouvia tudo e avaliava se o quão era importante ainda manter um segredo ou abrir mão das reformas? ... não que fosse mentir para obter os benefícios, mas, por perda de garantia da manutenção do segredo que lá se iam vinte anos e acima de tudo, não poderia negar uma vida. O padre olhou para os lados, baixou a cabeça e disse: “- Meu filho, vamos tomar mais uma caneca de café pois a história é longa, e foi dali emendando um fato no outro até chegar no ponto da dúvida cruel do rapaz. Finalmente, contou que coincidentemente havia duas mulheres gestantes na comunidade, uma era a mulher do seu pai e a outra era uma pessoa, que eu em pecado, me relacionei, se caso fosse descoberto seria um escândalo e eu, consequentemente seria remanejado pela paróquia para outra comunidade, portanto, estava em dilema, roguei aos Santos que me ajudassem, não sabia como, porque ambas estavam próximo de descansarem (dar à luz).
Uma noite a parteira me acordou desesperada para dizer que a mulher do seu pai havia falecido, estava fria com aquele enorme buchão, e que ela mesmo assim tentou salvar a criança que não se mexia, estava morta também. Ai pensei, mais como esses Santos pensaram e me ajudar desse jeito, agora é que complicou a situação, fiquei numa enrascada, vai ser o jeito ter que dizer pra todos quem é o pai desta criança. A parteira velha muito esperta, me puxou pelo braço e disse, - “Padre, a outra mulher acabou de descansar também, diga que o filho é dessa que faleceu e mande a mãe jurar se calar”. Fiquei pensativo, na hora não entendi, mas com o desenrolar da noite, acabei achando a ideia interessante. Na manhã seguinte foi feito o enterro da mulher do seu pai com a criança, que também falecera, não fizemos velório e ficamos com a criança que era minha filha para criar, dizendo ser da mulher do seu pai, Juramos todos na cruz manter o segredo. A ideia seria entregar a criança para o seu pai criar que depois me disse não ter condições sozinho e me incumbiu de fazê-lo, nesses anos todos, seu pai sempre me ajudou na criação dela. Finalmente hoje estou me libertando desse peso e confessando para que esse erro não prejudique vocês que se amam. Que Deus me perdoe por isso.