O Grito

Robson sempre gostou de caminhar pelo cemitério da cidade. Achava que era um lugar tranquilo, silencioso e sempre que sentia que precisava de um pouco de paz ia naquele lugar para se acalmar e pensar.

Quando era criança muitas vezes brincava ali com sua turma, onde ninguém perturbava.

Acabou adquirindo este hábito.

Ele caminhava, olhava, observava tudo. Como era o cemitério mais antigo da cidade, ele muitas vezes tinha a curiosidade de olhar túmulos e placas pra saber quem estava sepultado que muitas vezes nem conhecera pessoalmente, mas conhecia pelo nome.

E ele ia caminhando, pensando na vida, observando o silêncio que reinava ali, observando a arquitetura de cada túmulo, as imagens.

Aquele passeio virou rotina para ele. Sempre que precisava de paz e de pensar na vida ia caminhar lá.

Um dia ele foi caminhando até a a parte mais deserta, já no fim do cemitério.

Observou que tinha um túmulo com uma abertura. Curioso chegou até a abertura e se abaixou pra ver o que enxergava lá dentro.

Quando chegou bem próximo ouviu um grito alto e estridente saindo de lá.

Ele estremeceu de susto. Seu coração batia a mil. Com esforço se levantou, mas suas pernas estavam bambas. Ele se virou e foi caminhando meio trôpego. Suas pernas não obedeciam, seu coração continuava disparado e estava todo trêmulo.

Não olhava para trás, seguia em frente o mais rápido que conseguia.

Com medo e ainda assustado chegou finalmente à porta do cemitério e tentou correr em direção ao carro, mas só conseguia andar com as pernas ainda falhando.

Chegou finalmente ao carro depois de um tempo que pareceu uma eternidade. Saiu rapidamente pra longe dali.

Chegando em casa ainda estava pálido e o grito horripilante não saia de seus ouvidos.

Por um bom tempo aquele grito ecoava em seus ouvidos e ele ainda sentia medo e não tinha explicação para o acontecido. Nunca teve medo, mas ficava imaginando o que teria acontecido aquele dia. Um fenômeno estranho e sem explicação.

Durante muito tempo não teve coragem de voltar ao cemitério, evitava até passar pela região.

Finalmente um dia ele estava passando por lá e viu um zelador do cemitério que era conhecido.

Ele veio conversar com Robson e disse que ele estava sumido.

Robson hesitou um pouco, mas contou a história tenebrosa pra ele e disse que não conseguia esquecer aquele grito.

-Onde foi que aconteceu isso? Tenho certeza que aqui não tem nenhuma alma penada.

-Foi lá no final, perto do muro lateral. Tinha um túmulo com uma abertura lá.

-E você foi lá olhar o que tinha, não é?

-Sim. Abaixei pra olhar. Foi quando ouvi o grito assustador.

O zelador deu uma gargalhada.

-Você não acredita?

-Acredito.

-Por que está rindo?

-Não tem nenhuma alma penada lá naquele túmulo abandonado. Tem sim um cachorro que se abriga lá há mais de um ano. Quando você foi olhar ele se sentiu ameaçado e latiu. Ele sempre late quando alguém se aproxima.

Robson ficou sem graça, encerrou o assunto e foi embora.

Por muitos dias esteve pensando naquilo e chegou à conclusão que o grito que ouviu bem que podia ser um latido de cachorro. O barulho vindo de dentro pareceu mais estrondoso que realmente foi e o medo que sentiu o fez pensar que era um grito do outro mundo.

Então ele voltou a fazer suas caminhadas tranquilas naquele lugar tão silencioso e cheio de paz.

Um costume um tanto estranho que lhe agradava e deixava cheio de paz e tranquilidade.

“Afinal cada um tem suas preferências e ninguém tem nada com isso.” pensava ele.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 13/02/2023
Reeditado em 13/02/2023
Código do texto: T7718693
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.