MÃO MACIA

 

Em uma ocasião em que fomos convidados para um almoço na casa de meu irmão, ao chegarmos, fomos apresentados para algumas pessoas que lá já se encontravam. Uma senhora, ao apertar a mão de meu marido, exclamou:

 

- O Senhor tem a mão muito macia! Certamente, não executa nenhum trabalho pesado.

 

Ele respondeu:

 

- A Sra. está certa. Não faço mesmo, e apontando para mim, completou:

 

- É ela que faz!

 

Era verdade. Suas ferramentas eram o teclado do computador, a caneta, a lapiseira e a borracha. Passava seu tempo lecionando na universidade, dedicando-se à pesquisa e à escrita de livros, enquanto eu cuidava da casa, cozinhava, lavava e fazia faxina, além de trabalhar fora como secretária executiva em uma indústria.

 

Não que eu me queixasse Muitas vezes ele me ajudava na cozinha, pois gostava de cozinhar. E todo o seu trabalho era muito bem remunerado, de forma que podíamos pagar uma empregada, mas eu não queria. Gostava do trabalho doméstico e me permitia somente uma diarista, uma vez por semana.

 

Ele era brilhante, eu uma coadjuvante, não menos importante. E foi, por isso, que o casamento deu certo. Muitas vezes ele escreveu textos, artigos, livros, que foram lidos comentados e aplaudidos. Pouca gente sabia, mas eu fazia a revisão de lingua portuguesa de seus trabalhos de tecnologia, pois fui treinada para isso no curso de Letras. 

 

Seu primeiro casamento faliu porque a mulher com quem se casou não aceitava que dedicasse tanto tempo ao estudo, à pesquisa e à ciência. Rasgava ou queimava seus escritos. Trabalhamos em parceria todo o tempo em que ficamos juntos. Fomos felizes e aprendemos muito, um com o outro. Guardo com carinho o prêmio Jabuti que recebeu em 1984 pelo livro de tecnologia em telecomunicações: Teoria e Projeto de Filtros, cuja revisão foi feita por mim.

 

Faz tempo que ele partiu, hoje tudo é passado, porém bem vivido e repleto de histórias para contar.