Causos de Coribe - Criando um problema para evitar outro pior
Causo 15 do livro "Casos Inacreditáveis de Coribe".
|| Prezado leitor, veja no final os motivos que me levaram a colocar este causo no livro ||
Para finalizar o livro, presenteio o leitor com um diálogo bem acalorado entre o glorioso Salvador e Seu Piatã.
O caso ocorreu no Banco do Bradesco de Cocos-BA.
Cocos é um município limítrofe de Coribe. As sedes dos dois ficam a 40 km uma da outra, bem pertinho.
Inicialmente, faz-se necessário destacar que Salvador estava distraído quando Piatã arrumou confusão com Dona Maria da Vitória.
Dito isto, vamos à elucidação dos fatos!
Dona Maria da Vitória, esposa de Salvador, estava na fila do banco, aguardando para tirar o dinheiro.
Piatã chegou e a perguntou se estava tendo dinheiro. Ela lhe respondeu:
– Tem, mas tem que pegar a fila lá atrás!
“Moço, pra que foi”... O cara não gostou da resposta!
Salvador, enquanto estava desatento e olhando para outra direção, ouviu Piatã dizer a alguém:
– Eu também sei! Não precisa você falar não viu!
Piatã foi falando coisas para Dona Maria da Vitória, reclamando-a com grosseria, o que a fez sair da direção dele a fim de evitar confusão.
Mas Piatã, querendo arrumar confusão a todo custo, se moveu para a frente da esposa de Salvador e disse:
– Você perde esse costume viu... ficar explicando coisa pra gente... eu também sei!
E foi falando, falando, falando ...
Quando Salvador viu a hora de Piatã dar um tapa na mulher, resolveu chegar mais perto da confusão para saber o que estava acontecendo e, para sua surpresa, percebeu que as palavras ouvidas e a ameaça de agressão física estavam sendo proferidas à sua esposa.
Sabendo dos problemas de saúde que ela tem, ele não quis deixar o causo aumentar e foi reclamar o iminente agressor. Sem hesitar, entrou no meio da confusão dizendo a Piatã:
– “Peraí”... você vai parar ou já parou?
Piatã não entendeu bem a fala de Salvador devido à muvuca de gente.
Subindo o tom de voz e o encarando, o papo de Salvador com ele se deu da seguinte forma:
Salvador: – Você já parou ou vai continuar?
Piatã: – E porque que você está falando isso comigo?
Salvador: – É porque ela aí é minha mulher e você tem que respeitar!
Piatã: – É porque ela está me reclamando aqui pra eu entrar na fila...
Salvador: – Pois é... eu não vi ela falar alto com você e você está falando alto com ela!
Dona Maria da Vitória, com medo dos dois brigarem, entrou no meio e deu um empurrão em Piatã, que a encarou de imediato, indo para cima dela e sendo “ataiado” por Salvador, que disse a ele:
– Moço, você já parou ou vai continuar ainda mais moço? Eu não já falei pra você parar?
O agressor, em razão de ter recebido a resposta de Dona Maria da Vitória para pegar a fila lá atrás, disse a Salvador:
– É que eu não sou burro não!
Disse-lhe Salvador:
– Você é pior de que burro! Mais de que burro ainda você é!
A partir daí, o marido de Dona Maria da Vitória se alterou com Piatã, falando alto e grosso com ele.
Naquele instante, apesar do canivete na bainha do corrião, não quis usar a arma branca. Ao invés disso, mostrando a mão fechada para Piatã, ou seja, o murro, disse Salvador:
– Você não aguenta uma dessa em cima da boca!
Tinha umas mulheres lá que passaram por trás e se afastaram e Salvador, bem bravo, reforçou mais uma vez a Piatã:
– Você não aguenta isso aqui na boca!
Piatã, então, o respondeu:
– Então vamos lá pra fora!
Dona Maria da Vitória atravessou na frente novamente dizendo:
– Não, não, não...
E nessa discussão toda, ela já foi entrando no meio de ambos os homens para separar a confusão. “Ataiado” por sua mulher, Salvador disse a Piatã:
– Abre fora rapaz! Abre fora que eu já estou te avisando antes pra você sair fora... e para de conversar!
Como Piatã viu que o negócio estava ficando feio para ele, resolveu acatar o conselho e cascou fora.
As pessoas que estavam ali deram razão para Salvador e uma lhe disse:
– Moço, mas o cara é ignorante né?
Salvador respondeu:
– Igual esse aí não tem a “parea” não!
O casal ficou conversando com as pessoas da fila e soube que não era a primeira vez que Piatã arrumava confusão. Disseram que, certa vez, ele causou uma briga na prefeitura que deu até polícia!
Por fim, Salvador explicou para as pessoas que presenciaram a confusão as razões que o levou a entrar no meio:
– Maria não foi ignorante com ele. Ela falou baixinho e ele alterou com ela, como se fosse bater nela. Ela tem problema de diabete e de coração... eu não podia deixar esse causo aumentar aí não... Eu falei: vou cortar logo o barato dele aí... vou lutar de qualquer jeito, mas ele tem que abrir fora... vou consertar ele aí porque ele tem que sair fora... Aí eu cortei logo o papo dele!
Após tais explicações, revelou em seguida a razão principal:
– A mulher sente certos problemas lá moço e depois vem me dar é trabalho! E ao invés dela me dar trabalho lá em casa eu dou trabalho pra esse cara aqui logo e acaba o problema!
Todos ali concordaram veementemente com o glorioso Salvador! Ele foi o vitorioso!
Fim.
Motivos de ter colocado este causo no livro:
1) Moral da história 1 - Os perigos de falar demais:
Às vezes, para evitar confusão, é bom responder apenas o que foi perguntado.
Nesse sentido, se a Dona Maria da Vitória tivesse respondido a Piatã apenas “sim” ou “tem”, não teria gerado a confusão. O pouquinho que ela disse a mais acabou colocando em riscos seu marido...
A importância desse causo é mostrar que existem muitas pessoas, como o personagem Piatã, que aproveita qualquer deslize para causar discussões... por isso, é importante a gente pensar antes de responder alguma pergunta. A depender da forma que a gente fala, a conversa pode tomar um rumo inesperado e perigoso...
2) Moral da história 2 – Causar um problema para evitar outro maior:
Por que Salvador entrou na confusão?
Foi uma questão de escolha, pois ele preferiu gerar um problema com Piatã para evitar outro pior, que seria o trabalho com Dona Maria da Vitória se passasse mal com a confusão, já que ela possui problemas de saúde.