O Ratão do Paiol
Essa foi uma história contada por meio de uma conversa informal, daquelas em que caçadores, pescadores e outros mentirosos reúnem-se em volta de uma mesa para ouvir. Foi contada quase ao mesmo tempo, por Onofrinho e Antônio Jerônimo, moradores antigos de Papucaia.
Na época em que eram meninos era costume fabricarem espingardas caseiras utilizando cabo de guarda-chuvas ou sombrinha. Como as coisas de eram antigamente feitas para durar, a expectativa era grande para que uma peça dessas desse defeito. Mas como tudo na vida um dia termina, também acabava a vida útil da sombrinha daquela tia ou o guarda-chuva do vizinho. Então a engenharia das mentes brilhantes dos garotos do Século XX entrava em ação. O fino cano dos sombreiros transformava-se em armamento para caçar marrecas no brejão e ratos no paiol de milho. Vamos ficar com o segundo animal para não estender demais esse conto.
Um ratão gordo de tanto comer milho e fubá do paiol do “Seu Onofre” o pai, estava tirando o sossego do menino Onofrinho, que resolveu fazer uso de seu conhecimento bélico para fabricar uma dessas espingardinhas que mencionei. Chamadas também de arataca, fundanga ou soca-soca. O mais apropriado é o último nome, pois Onofrinho socou tanta pólvora que a arma ficou pesada. Feita a tocaia o ratão não teria chance, seu tempo de comedor de milho chegara ao fim. Com espoleta de papel, a carabina aguardava engatilhada sua vítima roedora...
O ratão, por sua vez, nem se importava em aparecer durante o dia. Gordo que nem um preá, já quase não andava, rastejava, deitava e rolava no milho da família. Mas hoje, pensou o menino, isso teria fim. Era só mirar, encostar o rosto bem próximo ao cano e CABUM! Eis que o tiro saiu pela culatra! A pólvora negra queimava no rosto do menino que nem urtiga na pele de gringo! Depois dessa, ele procurou outras brincadeiras menos perigosas... E o ratão nessa história como ficou? Continuou comendo milho até o fim da vida.
(Causos e Prosas de Macacu - Fabrício Fagundes).