Causos de Coribe - Sensação desagradável de estar sendo seguido

Causo 8 do livro "Casos Inacreditáveis de Coribe", de Marcos Macedo

 

| É muito interessante o imaginário popular... Mas, para quem nunca passou por uma situação como a desse causo, tente imaginar o que o medo faz quando se estar sozinho em dia de velório... e quem mora na roça, fica sozinho em diversas ocasiões... A mesma sensação que Itacaré passou, qualquer pessoa pode passar, em qualquer lugar! É importante manter forte o psicológico numa situação dessas... | 

 

Não somente à noite assombrações se manifestam! É o que dizem por aí...

 

Certo dia, Seu Caculé, um senhor que já estava com idade avançada, faleceu no povoado do Luca.

 

Era um dia ensolarado.

 

Itacaré, um garoto morador do Ispiau, compareceu no velório no período da manhã.

 

Esteve cara a cara com o defunto no caixão. Em pé, juntamente com amigos, parentes e conhecidos, olhou, olhou, olhou... A imagem do falecido ficou gravada em sua mente o dia todo.

 

Num dado momento, Itacaré teve que sair dali e ir para sua morada no Ispiau. Por algum motivo, seus pais ficaram no velório e ele precisou ir embora para voltar mais tarde.

 

O garoto estava a pé. Se não estivesse, com toda certeza do mundo, estaria numa bicicleta velha toda esbagaçada ou num cavalo zambeta, ruim de pisada e velhaco para pegar.

 

O rapaz seguiu seu rumo passando por dentro, isto é, pelos corredores e carreiros ao invés de ser pela estrada de fora, que seria umas quatro vezes mais distante.

 

Sem medo, Itacaré foi se distanciando do Luca e se aproximando do Ispiau. O trajeto, de aproximadamente cinco quilômetros, inicia-se num corredor, passando lá na frente por uma barragem, daquelas cavadas por trator de esteira.

 

Depois de algumas ladeiras e grotas, chega-se numa capoeira fechada e escura, transitada apenas a pé ou a cavalo que não refuga, cortada de fora a fora por carreiros embrulhados pelo mato, mais precisamente, mata-pasto e erva do mato, formando um verdadeiro ermo.

 

Seria possível não passar ali dentro. Para tanto, bastava seguir reto pelo corredor. Todavia, enfrentaria uma pedreira braba, podendo levá-lo, facilmente, a escorregar e cair no chão, ou melhor, nas pedras!

 

Itacaré preferiu a capoeira mesmo. Quando nela entrou e a luz do sol foi reduzida pelas belas sombras, cada passo tornou-se um tormento: era como se alguém estivesse o seguindo, caminhando a poucos metros atrás dele.

 

Ao parar, nada se via. Entretanto, ao continuar de novo suas passadas, o barulho característico de pisada de gente iniciava-se novamente.

 

Aquilo não era nada agradável. Longe disso! Tratava-se de uma sensação verdadeiramente tormentosa. Não tinha ninguém ali para acudir aquele garoto.

 

Além disso, não dava para Itacaré enviar uma mensagem via WhatsApp pedindo socorro, já que, naquela época, as pessoas daquela região nem sonhavam com as tecnologias existentes hoje em dia.

 

Naquela tormenta de perseguição invisível, porém sonora, o rapaz seguiu até sair lá fora. Foi uma peleja de dar dó.

 

Ao sair da capoeira fechada, na companhia de alguma livusia, ele passou numa manga de capim fraco e logo chegou numa antiga cisterna do tempo em que seu avô cuidava daquelas terras.

 

Já cansado e aflito, até que enfim passou pelo tanque, ou seja, numa outra barragem que seu pai utilizava para dar água para o gado.

 

Seguindo mais um pouco, sempre pelos carreiros para cortar o caminho, felizmente chegou são e salvo em sua casa de adobe de barro, sem acabamentos e com belas rachaduras que possibilitavam enxergar lá dentro.

 

Do lado de fora, empurrou um pouquinho a porta de madeira e, com o dedo, desceu a tramela. Abriu todas as janelas e portas, pois se caso fosse encurralado por alguma alma penada, ganharia tempo pulando pela janela, se fosse preciso!

 

Ali dentro da casa, com exceção do medo, não percebia mais nada. Estava bem tranquilo. Pensou ele:

– Parece que a livusia ficou para trás!

 

De repente, todos as janelas e portas se fecharam, numa pancada só...

 

Itacaré pegou o que tinha que pegar e saiu às pressas da casa.

 

Andando em sua bicicleta velha, subiu correndo e sem olhar para trás o longo corredor do Ispiau, pegando em seguida a estrada de fora rumo ao Luca.

 

Naquele momento, ainda estava acontecendo o velório de Caculé...

 

 

Marcos Macedo (Cantor)
Enviado por Marcos Macedo (Cantor) em 09/02/2023
Reeditado em 09/02/2023
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