Causo 10 do livro "Casos Inacreditáveis de Coribe"
Causos de Coribe - Um gato estranho em Belo Horizonte
| Uma homenagem aos meus grandes amigos do povoado do Ispiau |
Um rapaz com cerca de 23 anos de idade na época do fato, chamado Oliveira dos Brejinhos, mais conhecido como Oliveira, trabalhava no Banco do Brasil na capital mineira Belo Horizonte.
Um de seus maiores amigos, daqueles com quem conviveu desde a infância, estava internado em Brasília, no Hospital de Base, entre a vida e a morte. Ele se chamava Jaborandi e tinha uns 52 anos de idade.
Jaborandi foi o vizinho mais próximo de Oliveira quando ambos moravam no povoado do Ispiau, em Coribe-BA. Foi um dos que sempre o ensinou coisas boas e o recebia com muita cortesia para juntos apreciarem as belas músicas da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano quando se apresentava nos programas de televisão.
Naquela época, na casa de Oliveira, ainda não tinha televisão, razão pela qual precisava do apoio do amigo para assistir o Domingão do Faustão ou qualquer outro programa quando tinha a participação da referida dupla.
Só faltava pregar os olhos na TV quando eles começavam a cantar. Até hoje, Zezé di Camargo e Luciano são, incomparavelmente, os artistas mais apreciados por Oliveira.
Era fato que Jaborandi sempre lhe dava muita atenção em qualquer ocasião, o que conquistou enormemente sua amizade... eles andavam a cavalo juntos por aquelas terras... eles tinham uma amizade boa demais!
Pode-se dizer que, para Oliveira, Jaborandi foi um amigo pai e não um pai amigo, já que este existia e existe até hoje, que é o glorioso Tonim!
Durante a infância, quando Oliveira precisava de dinheiro, sempre conseguia com seu grande amigo Jaborandi algum terreno para roçar, ganhando seu dinheirinho de vez em quando.
Tratava-se de uma vida com muitas dificuldades, porém repleta de alegria de viver! Não se via ninguém reclamando da vida.
O tempo foi se passando e aquele jovem seguiu um rumo na vida. Após longa dedicação nos estudos, passou no concurso do BB e foi trabalhar, época em que Jaborandi adoeceu. Ele chegou a visitá-lo no hospital, vendo-o bastante debilitado.
Em um dia de domingo, Oliveira recebeu de manhã a triste notícia do falecimento de Jaborandi.
Tal notícia foi dada por sua mãe, a dona Lapa. Ela morava perto da casa do falecido e disse que já estava pressentindo que algo ruim aconteceria, visto que uma coan havia cantado à tarde toda no dia anterior à morte.
Não foi possível Oliveira ir ao Velório, realizado no povoado Ispiau, cujo nome oficial é Lagoa do Lucas.
Ele morava no centro da capital mineira e, com muita tristeza, saiu caminhando naquele dia de domingo pelas ruas de BH.
Passou pela Praça Sete e foi andando na feira da Afonso Pena até a entrada do Parque Municipal. Ficou por ali durante alguns minutos, bem triste pela morte de Jaborandi.
Cabisbaixo, entrou no parque e sentou-se em um banco e ficou pensando nas lembranças do velho e bom amigo falecido... naquele momento, realizava-se o velório a quase 1000 km de distância.
Foi aí que apareceu um gato com um comportamento diferente. De todos os animais que existem, o gato sempre foi o preferido de Oliveira.
Estranhamente, aquele se comportava como se já conhecesse o rapaz, uma vez que, sem ser chamado, chegou subindo no seu colo e o alisando.
Oliveira colocava o gato no chão, mas ele pulava novamente em seu colo e ficava o encarando, sempre com muito carinho e dengo.
Num dado momento, o rapaz o colocou no chão outra vez, mas ele passou por detrás do banco, pulou em seu ombro e dali em seu colo novamente, sem demonstrar perigo de o arranhar.
Muitos gatos realmente são dóceis e gostam da presença do ser humano. Mas daquela maneira, Oliveira nunca havia visto, já que aquele não o largava de jeito nenhum e, a todo instante, olhava em seus olhos como se quisesse dizer algo, causando elevada estranheza.
O comportamento do gato fez o rapaz sair dali. Ele foi atravessando o parque rumo à Avenida dos Andradas e, por incrível que pareça, o animal foi junto e passando o rabo em suas pernas.
Muitas pessoas começaram a olhar aquela cena bastante diferente, fazendo-o ter que parar e sentar-se em algum banco novamente para não ficar exposto, pois, uma vez sentado, o comportamento do gato tornava-se menos visto.
Entretanto, mesmo sentado, Oliveira já estava ficando envergonhado, pois as pessoas estavam percebendo que não era normal aquela situação. De toda forma, algo absolutamente impensável por ele seria bater no animal para afugentá-lo dali ou para fazê-lo parar com aquele comportamento de ficar, a todo instante, subindo em seu ombro e em seu colo. Mas de tudo, o mais estranho era o olhar profundo em seus olhos.
Já que bater estava descartado, uma vez que Oliveira dos Brejinhos não tem esse comportamento agressivo com animais, após cerca de uma hora sentado naquele banco, saiu andando novamente, sendo, obviamente, seguido pelo gato.
Praticamente tropeçando nele, com passos cuidadosos para não pisar em suas patas e machucá-lo, o rapaz de Coribe, lentamente, saiu lá do outro lado do parque, na Avenida dos Andradas.
Na saída por aquele lado, ficam vários vendedores ambulantes e um deles até brincou:
– Você quer quanto nesse gatinho? Que bichinho mansinho hein!
Apesar da tristeza devido ao falecimento de Jaborandi, Oliveira manteve a reciprocidade no carisma e respondeu em tom de brincadeira:
– Esse aqui não posso vender!
Naquele momento, pensou:
– Não vou vender o que não é meu...
Devido ao comportamento excessivamente meigo do gato, foi muito custoso chegar até àquele ponto.
A partir dali, andando pelas calçadas, evitando cruzar a avenida para que o animal não fosse atropelado, Oliveira foi seguindo com cuidado.
Após umas três horas nas redondezas daquele parque, na companhia carinhosa do gatinho, que ficava o tempo todo passando o rabo em suas pernas e olhando em seus olhos, ele decidiu chamar um táxi.
Quando o carro chegou e Oliveira entrou, o gato queria entrar também. Fez de tudo para permanecer em sua companhia! Foi muito triste para o rapaz não o levar junto...
Para fechar a porta do carro, teve que segurar o gato com uma das mãos e, com a outra, foi fechando devagar para não imprensá-lo. Além disso, foi preciso pedir ao motorista para tomar muito cuidado ao sair, evitando atropelá-lo, já que estava muito próximo da porta, querendo entrar de todo jeito, podendo pular para debaixo do carro quando saísse...
Foi a mais triste corrida de táxi da vida de Oliveira dos Brejinhos!