Causo 3 do livro Casos Inacreditáveis de Coribe

Causos de Coribe - O cavalo vê coisas que a gente não vê?

 

    Um rapaz chamado Juazeiro, a caminho do povoado coribense Ispiau, estava vindo da Feirinha, também conhecida como Água Suja, sendo que o nome oficial é Água do Carmo, uma vila bem antiga pertencente ao município de Cocos/BA e que faz divisa com Coribe/BA.  

    Feirinha é a vila que primeiro teve comércio naquela região. Há muitos anos atrás, todos os moradores das fazendas de Coribe daquelas redondezas faziam compras lá.

    Dito isto, no trajeto feito por Juazeiro, querendo ou não, necessariamente teria que passar pela Baixa do Pajaú.

    Lá, durante o dia, já é escuro... imagine à noite? O sol já estava se pondo quando Juazeiro avistou um dos locais mais falados e temidos de toda aquela região.

    A famosa Baixa do Pajaú inicia-se ao passar por um colchete de arame farpado existente no final de um longo corredor praticamente reto, que de tão comprido some no horizonte.

    Entrando nela e olhando para o lado direito, ver-se uma casa abandonada. Ali, antigamente, moravam Dona Irecê e Seu Bonfim, que na data do caso já tinham morrido a tempos.   

    Andando pelos carreiros feitos pelo gado, montado em seu cavalo bom de galope, mas não de pisada, Juazeiro foi trotando por aquele caminho, com os cabelos da cabeça tentando, a todo custo, levantar o chapéu.

    Com exceção das calças molhadas, até que foi tranquila a passagem naquela baixada. Já estava escurecendo quando ele concluiu o primeiro passo da jornada.

    Ao sair daquele temido local, onde era de costume aparecer livusias, com sensação de dever cumprido e ansioso para chegar logo e contar a novidade de ter passado lá sozinho aos parentes e amigos, iniciou-se a passagem pelo famoso Gerais de Sento Sé.

    Ao fechar a cancela, entrou naquele gerais com muita pressa, pois aqueles carreiros davam a impressão que não tinham fim.

    De tanto passar pessoas e animais por ali, eles já estavam fundos, o que, às vezes, até atrapalhavam o cavalo andar. Sem contar que em alguns pontos os estribos encostavam no chão, visto que a fundura era maior do que as pernas do animal.

    De todo modo, apesar dos carreiros mostrarem o caminho, consistindo numa antiga e frequente passagem de pessoas a pé e a cavalo, tinha que tomar cuidado para não se perder, pois existiam muitos cruzamentos que poderiam levar alguém sem experiência a outros rumos.

    Mas Juazeiro conhecia bem aquele percurso, já que passava ali frequentemente com sua família, afastando totalmente a possibilidade de sair do trajeto correto.

    Não obstante, apesar do fato de que o cavalo não tinha o costume de refugar, não se sabe o que ele viu que, de repente, se recusou a passar em uma curva fechada dentro daquele gerais.

    Ele ficava se desviando de algo invisível aos olhos do cavaleiro. Com medo dele pular, ou seja, sair dando cambalhotas e, com isso, derrubar o peão, o jeito foi descer e puxá-lo para fora dos carreiros, desviando-se dali.

    Foi feito isso e, inicialmente, funcionou. Juazeiro desviou-se do local onde o cavalo estava refugando, passando dentro do mato.

    Tinha muitos cipós e galhos baixos e tortos, mas o chão estava razoavelmente limpo, já que nas terras de gerais a vegetação não é fechada como nas de barro. Nestas não é em qualquer lugar que se consegue entrar, a não ser que a pessoa não tenha cisma de levar um bote de cascavéis e patuás.

    Com muito trabalho, Juazeiro saiu lá na frente. A volta foi grande, pois por onde passava deparava-se com galhos mais baixos do que o cavalo e este não enverga como a gente.

    Montou novamente e andou bem por alguns minutos, porém, o cavalo começou a refugar outra vez e com mais intensidade.

    Ele se curvava para a direita e esquerda, encarando em algo que o cavaleiro não via.

    O animal começou a pular e Juazeiro tentou controlá-lo, apertando as esporas para ver se ele andava. Não teve jeito! O cavalo se absteve de obedecer as ordens do seu montador, começando a andar de ré e gerando elevado pânico no rapaz.  

    Juazeiro não viu outra solução senão adotar o mesmo procedimento anterior, qual seja, descer e se desviar. Foi muito trabalhoso, mas com muito esforço ele conseguiu sair do gerais e pegou o corredor rumo ao Ispiau, descontando o atraso ao manter o cavalo no galope até chegar em sua casa.

    Diante da narrativa do fato, fica a seguinte indagação: o cavalo vê coisas que a gente não vê?

    A resposta fica a cargo do leitor, mas é importante dizer que, na região de Coribe, sempre quando alguém vai comprar um cavalo, comumente pergunta ao vendedor: esse cavalo refuga?

    Dessa forma, cavalos refugadores são muito comuns, o que dar a impressão de que eles veem coisas que fogem aos nossos olhos.

 

Marcos Macedo (Cantor)
Enviado por Marcos Macedo (Cantor) em 08/02/2023
Reeditado em 10/02/2023
Código do texto: T7714270
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