Parte 3 do livro "Casos Inacreditáveis de Coribe", de Marcos Macedo 

 

Causos de Coribe - O canto agonizante da coan

 

Segundo o dicionário Michaelis, a acauã é uma “ave de rapina da família dos falconídeos, que habita as regiões tropicais das Américas, de plumagem pardacenta e costado, asas e cauda escuros, com faixas transversais claras e uma faixa negra ao redor dos olhos, cujo canto, ao cair da tarde, é considerado mau presságio e prenunciador de chuva [...]”.

 

O referido dicionário cita outros nomes para a ave: acuã, cauã, gavião-cauã, macaá, macaguã, macauã, nacauã e uacauã”. Ocorre que, na região de Coribe/BA, tal pássaro é conhecido como coan e, por tal razão, assim será chamado neste livro.

 

Assim sendo, a ave possui vários nomes, mas seu canto é único na natureza. É inigualável! É incomparável com qualquer outro canto de pássaros. É um timbre realmente diferenciado. Basta ouvir e sentir os arrepios!

 

Muitos dizem que o canto da coan é o sopro de uma morte que acabou de acontecer!

 

De toda forma, ela fica solitariamente no topo de uma árvore agourando o ambiente e se seu poder de trazer coisas ruins é verdadeiro ou não, isso não importa, já que, de um jeito ou de outro, quando ela solta a voz, as mães lá da região ficam todas aflitas e preocupadas.

 

Seu canto é, simplesmente, agonizante. Ela não fica por muito tempo cantando nos arredores de uma casa. A estadia dela dura, geralmente, uma tarde. Dessa forma, quando ela decide soltar sua voz numa determinada morada rural, fica a tarde toda cantando e causando nos corações das donas de casa uma terrível sensação estranha de que uma notícia de morte chegará em breve.

 

Tempos atrás, para aquelas mães que tinham filhos que moravam distante, numa época em que não existia comunicação da forma que se tem hoje, era bastante comum suas lágrimas descerem pelo rosto marcado por profundas manchas causadas pelo sol escaldante, ao som do famoso canto da coan.

 

Até hoje, em muitas famílias da zona rural, em diversas ocasiões, as mães ficam bem solitárias, principalmente quando os filhos vão para a capital à procura de emprego. Nessa situação, o marido tem o costume de passar o dia todo fora e a esposa, sozinha em casa, fica à mercê de pensamentos e preocupações, sobretudo em relação aos perigos que seus filhos enfrentam na capital.  

 

Nessa ocasião, não faz diferença se a coan é ou não é agourenta. O fato concreto e objetivo é que ela, ao cantar, gera profunda ansiedade e despeja uma carga pesada de pensamentos negativos.

 

Trata-se da mais pura e verdadeira aflição, onde aquela mãe solitária não sabe o que estar por vir, mas consegue imaginar. E essa imaginação, fatalmente, nunca é das melhores!

 

O problema principal é o tanto de relatos de que, após o canto da coan, alguém faleceu, gerando uma espécie de indução lógica de que ela sempre traz notícias de morte.

 

Estranhamente, dizem que quando ela canta a coruja não chega perto e nem canta junto. Talvez para não atrapalhar sua missão... Na verdade, diz-se que nenhum pássaro ousa cantar quando a coan está fazendo seu espetáculo.

 

Trata-se, assim, do pássaro que tem o canto mais temido de Coribe, trazendo muita angústia para aqueles que acreditam que ela é mensageira da morte.

 

Quando a coan canta, a sensação é de tristeza e agonia! É como se alguém, na iminência de morrer, estivesse tentando falar, gritar, chamar por alguém, mas sua boca está literalmente calada e a referida ave comparece em seu lugar para noticiar aos familiares próximos seu sofrimento de morte.

 

 

 

Marcos Macedo (Cantor)
Enviado por Marcos Macedo (Cantor) em 07/02/2023
Reeditado em 13/02/2023
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