Claro é
É claro que é! Oras se é que é mais que é claro. Claro, pois sim que é. Não havia de ser que não fosse claro? Como que é. Claro que é e que não podia que ser!? Confusão está. Confuso é assim dito. Xi, que ficou louco um tio com essas manias de dizer que é o que não podia que ser. Confuso, não!? Xi que hospício vai ter mais hóspedes, não é, disse Mariazinha, doidinha que é, quando Genilson apareceu com essa novidade, dizer que é o que ninguém saber se pode ser. Genilson que nunca foi certo dos juiz, desde que se botou no mundo, miudinho, mirradinho mesmo, que é assim. Oras diz que falou, despois que não falou. Não é moço ruim não. Genilson é menino bão que mais da conta. Não deixa ninguém passar por ele e ele não dar uma ajuda. As veis carrega sacola pra senhora que vem da feira. Carrega saco de fubá, pra homem inté de caminhão. Carrega inté água, água buscada lá longe, no rio da fazenda Onça que não Dorme. São léguas de sol a pique. Genilson não se incomoda, Ah, que não. Busca água inté que os barris, os tambor, estejam estourando de água. Genilson é moço bão. Sem maldade, as veis fala coisas sem precisão de sentido, por isso, falam que ele e doído. Mas não é não. Ele tem o jeito dele pensar, só isso; pensa diferente porque o mundo dele é diferente, não é melhor, nem pior, só diferente. Doido, doido é mundo, esse mundo carregado de maldizer, de judiação. Como é bão o mundo de gente que só faiz mal, se pergunta Genilson. É bão gente muito, mais que muito de rica, rica mesmo, cheio das nota e ter gente sem comer, gente sem morada? Ah, pois que não é bão. Mundo assim de maldade e desconsideração não é mundo de gente não. Claro que não! E num pode que ser. Nunca que pode ser. Então falam que sou doido. Oras, pois que é. Falam que sou doido porque falei pro padre que Jesus foi colocado na cruz pelos rico. O padre que quase caiu de costas, quase que bateu com as bota. Mas não bateu, não. Disse que eu devia rezar muito, pedir pro nosso bom Deus que me desse juízo, que limpasse minha cachola dessa besteragem de dizer que foi o rico que colocou Jesus na cruz. Então, ficou assim, depois do padre, todos passaram a dizer que sou doido. Oras pois, não sou, não. Doído é o mundo que acha normal gente ricona de dinheiro e outras na mais medonha precisão. Essa desconsideração é que é doida de entender. Genilson não cansava de repetir quando alguém falava que era doido.
E pois que é que. Claro que é, seu Bento veio dizer que o céu está pra chuva. Que lá por trás da Ribeira, bem lá longe, inté mais longe que a fazenda da Onça que não Dorme, seu Bento veio dizer que as nuvem estão por demais de escuras. Que nuvem assim, que faz o dia que parecer noite, é sinal, sinal forte de muita chuva. Que quando isso acontece é preciso ficar de olho nas cria pras água não levar, e não tirar o zóio da prantacão. Que também é bão rezar, rezar com fé dobrada porque a fé simples, a dos dia normal, é pros dia normal. Dia com nuvem escura e chegada de chuva forte, só reza dobrada pode ajuda, que nunca é demais dobrar na fé e nos pedidos de proteção.
Nhô Samuel, homem sabido por demais das coisas, sempre que podia, assim, uma veis por meis, quase que sagrado, fizesse frio ou calor, só não, que nunca arriscava, se chovesse, Nhô Samuel, bem cedo, ia até a cidade. Ficava lá quase que o dia todo. Quando voltava, quase fim da tarde, já tinha passado no barbeiro, no alfaiate, no consultório e também na loja de livros, como ele se referia a livraria. Era um homem de bons modos. Não gostava de exageros e repudiava todo tratamento arrogante. Dizia que o sábio não aquele que sabe tudo, mas, aquele que diz sempre aprender.
É claro que é. Pois sim que é. Claro é que todo dia é dia de dúvidas e certezas. Claro é, sem dizer que não é, que Jenilson é moço bão demais da conta. Que doído não é, bem contrário, é mais que bão, Jenilson diz que doído é mundo de gente muito rica e gente muito de precisão. Que doído é achar que é normal quando normal não é achar legal gente mais que demais de muito rica e outros muito de pobre de precisão.
É pois sim. Jenilson é bão demais. É moço lindo de alma, disse Mora Maria, mãe de santo, amiga de Bento que sabe ver nas nuvem chuva que vem forte. Nhô Samuel, que lê muitos livros, ouve Bento e Mora, e aprende que saber aprender é mais bonito que pensar que sabe tudo, mas não.