Adejo do medo
Eu tenho medo de aviões, mas não da máquina em si pois sempre acreditei em seu funcionamento. Meu medo era que de tanto acreditar, o mecanismo falhasse junto na minha vez e eu ficasse pelo percurso sem nunca conhecer meu destino final.
Os anos se passaram e o medo de avião se perdeu em alguma idade que já não me lembro mais. Eu deixei de ter medo de um percurso sem destino e entendi que tinha me tornado meu próprio medo.
Hoje sou a travessia, nunca a chegada de alguém.
Todos os amores que passam pela minha vida, todos os amores da minha vida.
Eles sempre chegam com fissuras de alguma queda de avião anterior, alçam voo baixo comigo e quando estão prontos para um novo pouso, já não sou eu o território seguro.
Eu sou a zona de turbulência pensando ser pista de aterrissagem. Eu sou a escala, mas nunca o destino final.