GUARDIÃO PERPÉTUO DO ACAUÃ

Antônio Dantas é uma figura que traz a história da minha região do Seridó Potiguar nas marcas do tempo em seu corpo. Em suas veias corre o sangue da mestiçagem que uniu o nosso Brasil. No auge de seus 90 anos as suas histórias e causos beiram o infinito e sua paixão ao contá-las é o elã da altura de sua experiência de vida terrestre. Sua residência, que agora está grande demais, apenas para ele, é um verdadeiro museu de seu passado familiar em fotos, apetrechos e miscelâneas históricas.

Ele me contou que o seu bisavô, adentrou a costa potiguar num navio negreiro vindo de Cuba. Atendia pelo nome de Bartolomeu, ele era um negro forte e viril, bem educado que, além de escravo, foi um homem de confiança de um dos, ou se não o maior colonizador desde Seridó, o lendário Caetano Dantas Correa. A sua bisavó, pega ‘a casca de cavalo’ lá nas grotas do Saco da Luiza quando foi procurar mel de jandaíra nas chãs da Serra de Santana junto com sua irmã, era uma Índia tapuia uma cabocla vistosa que com o senhor Bartolomeu iniciou essa vertente familiar importantíssima para nossa identidade escrava/indígena do Seridó.

Esse cafuzo de sangue me mostrou uma vitalidade e inteligência que, desconheço ter visto nos olhos de outrem, suas histórias mantém esse genuíno seridoense vivo, e como espelho, ele mantém vivo a história desta região neste presente que tanta vezes nega o poder da tradição e do passado.

O menestrel de sangue índio e escravo, devoto de Frei Damião, Rei Perpétuo da Irmanade do Rosário, caçula de vários de filhos e filhas, onde um desse serviu o Brasil na segunda grande guerra na Itália, é o retrato fiel do que é ser uma verdadeira lenda viva. E é sempre uma honra para esse singelo aprendiz, encontrar com este velho e bom amigo.

***Este conto eu fiz em homenagem ao meu velho amigo Antônio Dantas, morador do Sítio São Pedro no município de Acari RN. Sempre quando minha rota do campo adentra as margens do rio acauã e próximo da sua residência, eu desligo o motor na frente da sua casa para trocar um dedo de prosa. Sei que ele vai estar sempre no alpendre após o almoço apreciando se alguma viva’lma passa naquela estrada empoeirada de frente a sua casa.***

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NOTA: Quem quiser ver as fotos do Antônio Dantas é só ir no meu Instagram wotson.assis

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Wotson de Assis
Enviado por Wotson de Assis em 25/01/2023
Reeditado em 15/02/2023
Código do texto: T7704045
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