Por onde andam os homens maus?
O homem se assustou a ver uma pequena garotinha no meio de um museu sombrio olhando para um quadro tão escuro que era impossível ver a arte presente nele. O homem não sabia como tinha chegado ali, só se lembrava da sensação que teve antes de sua visão escurecer. Um sensação de sufoco constante ao sentir sentimentos e pensamentos que não pertenciam a ele.
Ele se aproximou da garotinha curioso e perguntou:
- Por que você olha tanto para esse quadro?
- Porque ele poderia ter sido muito mais
Uma brisa gelada atravessou o grande salão branco passando levemente em sua nuca o fazendo arrepiar. E, em um piscar de olhos, a garotinha sumiu.
Ele não entendia aquilo. Não entedia o quadro, a garotinha, o tempo e até ele mesmo. Não entendia porque aquele enorme borrão negro sem forma e significado poderia ter sido mais.
O homem definhava lentamente de frente ao quadro, o tempo não era seu amigo. Até o momento que só restava o quadro e ele, tudo ao seu redor estava destruído pela circunstância. A medida que as coisas se corroíam, o quadro clareava mostrando sua pintura original. Foi o momento que o homem caiu de joelhos e as lagrimas teimosas escaparam de seus olhos. A culpa adentrava aquele lugar a medida que o homem chorava, impregnando se como um vírus as velhas e grossas paredes, matando quaisquer tentativa de ser quebrada.
O quadro revelou a cena. Um homem velho caído bêbado em uma poça de sangue que pertencia à ele, ao lado dele a garotinha, que tempos antes estava com ele dentro do museu, chorando e segurando uma faca ensanguentada. A garotinha nua que o homem, consumido pela bebida, cego pela raiva e possuído pela desgraça, estuprou.
O homem entendeu, aquele era seu inferno particular e sua sentença era alimentar Dejanira, personificação da culpa e do remorso, por toda a eternidade.
A eternidade é muito tempo e o tempo nunca foi seu amigo.