Humanidade animal
O Paranha, em quem o Morgan Freeman deve ter-se inspirado para aparecer tão bem nas fitas umas décadas a seguir, foi dos moradores pioneiros do chamado Chapadão, praticamente única área plana da mui serrana Pitangui. Tanto é que lá ficava o campo de pouso da cidade, com a sua biruta, praticamente sem serventia ou mesmo poesia, baloiçando à vontade... Entre uns escassos moradores espalhados por aqueles páramos lembro-me ainda das famílias do Matias Capeta e do Miguel Teixeira, este último filho do Juca ourives, o Jucorive... ali em meio ao cerrado, criança era mato...
O Paranha, contudo, e contado, era o mais conspícuo em suas andanças pela cidade. De hábito, montado num jumentinho, a quem tratava com especial carinho, costumava vender seus trecos e comprar algum mantimento dos cobres que ia angariando. E dada a sua altura, seus pés quase se arrastavam pelo chão...
Duma feita, ao fazer umas compras no cerealista Esperidião Cecin, bem defronte a matriz da cidade, ao receber seus teréns embalados numa daquelas capangas duplas, então chamadas de malas de animais, já montado, pediu ao balconista do Esperidião que ao invés de colocar a carga na garupa de seu jumentinho, colocasse-a então sobre os seus próprios ombros, para aliviar aquele peso adicional para seu animal...