O homem que morreu duas vezes
João vinha da roça depois de um dia exausto na lavoura, junto com os amigos pensando em tirar a poeira e descansar depois da sua janta.
O dia transcorreu quente como sempre naquelas terras com o sol castigando o corpo, raios vivos no frondoso Salgueiro.
No caminho João sentiu-se e mal desmaiou naquele mal súbito, fora socorrido para a cidade, o médico prontamente disse, foi coração, tentamos reanimá-lo, mas não conseguimos.
Ele fora enterrado no cemitério da cidade, todos extasiados sem acreditar no acontecido.
Deixara esposa, dois filhos e um irmão longe de casa.
O descanso que veio depois do trabalho árduo foi o definitivo.
Passaram-se dois anos, o irmão veio para retirar o corpo junto com a família, os restos mortais que ficaram seriam colocados em um ossuário.
Muita foi a surpresa para todos quando aberto o caixão parte do corpo que era de João estava em outra posição.
Absortos chamaram o novo médico já que o Doutor Manuel que atestara a sua morte havia sido transferido, ele disse que poderia se tratar de uma doença que deixa os músculos rígidos e que a pessoa sem sentidos parece morta e que poderia haver a possibilidade de ter acontecido isto, por sua vez José lembrou-se de um episódio na infância do irmão no qual ficou desacordado por pouco tempo.
Depois da retirada do corpo, a família claro mais aflita, começou a debater o fato de que, se houvessem atinado ou soubessem da informação do médico, o desfecho seria outro. Parece como se a tristeza aumentara depois de dois anos, outro velório.
Sabemos hoje que João sofrera de Catalepsia Patológica que é “uma doença rara em que os membros se tornam rígidos”, mas não há contrações, embora os músculos se apresentem mais ou menos rijos (duros). A pessoa fica o tempo todo consciente e quem passa por ela pode ficar horas nesta situação. A catalepsia patológica ocorre em determinadas doenças nervosas”
Ao ser sepultado João estava em estado cataléptico, fechado e sem ar veio a óbito, ou seja, foi enterrado vivo, morreu depois, morreu duas vezes para a família.
Hoje o sol do árido não castiga mais o corpo do falecido João, o salgueiro se inclina depois da sua morte, todos se resignam a sua perda e a falta de conhecimento.