Dedo no gatilho...
Seu Liminha era incansável quando se atirava numa campanha eleitoral. E sabia como convencer o eleitorado, sobretudo o da zona rural - que naqueles anos cinquenta era a maioria. E não sem razão, por duas vezes alcançou a suprema magistratura municipal da Velha Serrana cidade mais antiga do centro oeste mineiro.
Mas havia mais, além dos votos, conquistados. Promessas de recompensa feitas em confidência e garantia absoluta da reserva e discrição. E aqueles olhinhos azuis sabiam ser ternos, principalmente quando era a do lar que o atendia, na ausência ou distanciamento físico do marido, via-de-regra envolvido com as diuturnas lidas do campo.
Um belo dia, já com o avançado cair da tarde, enquanto se desincumbia de suas de suas funções viris e virais, sêo Liminha pressentiu que vigorosas batidas à porta, e gritaria, indicavam a chegada antecipada e inesperada do titular do pedaço...
Sêo Liminha não hesitou: num salto acrobático da cama saltou e pela janela foi que vazou... e quando a luz de uma lanterna o alcançou, foi sua absoluta e dissoluta nudez que se escancarou...
Porém, o compadre da vez, de cartucheira em punho quando naquele lusco-fusco o reconheceu, a sentença de execução sumária súbito se suspendeu:
- Uai, sô Prefeito, é o sinhô...e óia qui eu já tava com o dedo no gatio, mai num amiúde não...