Lembranças de minha mãe
O pacote humano encolhido parecia mais morto do que vivo.
Era apenas uma bola embrulhada
de pele e feridas. Quase passei sem ver, apressada atravessado no caminho.O frio atravessava os ossos soprando gelo pelo meu casaco e atingindo a alma que congelava.
Mas parei para ver o pequenino ser.Olhos gigantes num corpo minúsculo e cadavérico que me encaravam sem ver..
Estava claramente em choque.
Às vezes, a dor faz isso, leva sua mente para um lugar distante, deixando o corpo para trás.
Levei o pequeno embrulho para casa.Era uma menina e demorou seis meses para se comunicar,
mesmo sendo mais velha.
A primeira coisa que disse foi:-Mamãe!
E eu deixei. Olhos gigantes agora me olhavam
com esperança, em vez de medo.
O mar será profundo o suficiente para acolher a dor
que sofremos na infância e temos que esquecer
se quisermos sobreviver.
Tomara que caiba em suas águas a piores lembranças desse ser. Nunca tive coragem de perguntar quem a machucou e ela também nunca me contou.
Como um pacto de silêncio, onde duas almas machucadas
se reconhecem e se amparam na mesma dor.