Lembranças de minha mãe 

O pacote humano encolhido parecia mais morto do que vivo.

Era apenas uma bola embrulhada 

de pele e feridas. Quase passei sem ver, apressada atravessado no caminho.O frio atravessava os ossos soprando gelo pelo meu casaco e atingindo a alma que congelava.

Mas parei para ver o pequenino ser.Olhos gigantes num corpo minúsculo e cadavérico que me encaravam sem ver..

Estava claramente em choque.

Às vezes, a dor faz isso, leva sua mente para um lugar distante, deixando o corpo para trás.

Levei o pequeno embrulho para casa.Era uma menina e demorou seis meses para se comunicar, 

mesmo sendo mais velha.

A primeira coisa que disse foi:-Mamãe!

E eu deixei. Olhos gigantes agora me olhavam 

com esperança, em vez de medo.

O mar será profundo o suficiente para acolher a dor 

que sofremos na infância e temos que esquecer 

se quisermos sobreviver.

Tomara que caiba em suas águas a piores lembranças desse ser. Nunca tive coragem de perguntar quem a machucou e ela também nunca me contou.

Como um pacto de silêncio, onde duas almas machucadas

se reconhecem e se amparam na mesma dor.

Luísa Azevedo
Enviado por Luísa Azevedo em 15/12/2022
Código do texto: T7672291
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