Eu tiro o caco de telha e começo a mastigar.

É um costume antigo que nunca consegui largar.

Minha mãe diz que todos os vermes moram em minha barriga.

Mas que diferença faz comer tijolo ou a farofa de bunda de tanajura que ela fazia para o jantar?

Ficar horas catando formigas feito besta e sair toda picada.

Prefiro minha telha que levo comigo no bolso. 

Mesmo agora, adulta, diante dessa mesa farta 

eu gosto de tocar e sentir 

que tem um pequeno pedaço perto de mim.

Sinto ele debaixo do vestido justo e colado.

Uma sensação de segurança enquanto desfilo entre as pessoas numa mesa farta de comilança sem me deixar ofuscar por todo este luxo inútil e vazio.

As sobras desta festa alimentaria o povo da Rua dos Fracassos por um mês,mas as pessoas só beliscam 

os camarões gigantes.

Enquanto consomem litros de bebidas e drogas sem parar.Coloco um sorriso gigante e finjo 

que estou me divertindo.

Há onze anos, eu tinha feito uma promessa 

a mulher que me tirou das ruas e vou cumprir.

Nunca mais, ela vai precisar dormir com fome.Nem remexer o lixo dos outros para achar algo que possa transformar em alimentos. Eu só não posso chorar, tenho que ser forte e aguentar.

Luísa Azevedo
Enviado por Luísa Azevedo em 11/12/2022
Código do texto: T7669841
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