O recruta bisonho

O que irei narrar agora ouvi de um soldado na fila da auto escola Ex-Pracinhas na Vila Militar do Exército, que fica no bairro de Deodoro, no Rio de Janeiro. Ele disse ser da PE (Polícia do Exército), cabe esclarecer que os os componentes da PE são muito safos, mas nenhuma OM está isenta de receber bisonhos e seres raros.

O nobre colega contou-me em menos de uma hora, três interessantes histórias da caserna que merecem uma narração. Então lá vai a primeira! Você está preparado?

Preparado mesmo estava o recruta que chamarei de “Caldeirão,” para não revelar o seu verdadeiro nome, mas posso dizer que o nome verdadeiro é semelhante a este material do rancho. Caldeirão estava de serviço em um dos postos do aquartelamento. Após longa etapa de período básico, o jovem militar se considerava apto para exercer tão importante função. Reza a lenda que esse recruta dizia ser sobrinho de um General (que ninguém sabia quem era), e dizia saber tudo e mais um pouco sobre práticas militares, era super safo! Pelo menos em sua cabeça... Caldeirão assumiu o serviço contando um monte de vantagens e orientando os colegas acerca do funcionamento do armamento. Os soldados já não aguentavam mais tanta embusterice e aguardavam ansiosos pelo momento em que o cabo da guarda chamaria o tagarela para render o posto do canil. Enfim a hora tão esperada chegou e lá se foi o tão fanfarrão recruta para seu posto. Já era madrugada e o relógio do rondante marcava duas horas e quinze minutos, era hora de visitar os postos. Após percorrer todos os outros, chegou o momento de encontrar-se com o recruta Caldeirão, seria um encontro inesquecível para ambos.

O ronda vinha caminhando e mesmo com baixa luminosidade percebeu pela silhueta do militar que lhe faltava alguma coisa e prontamente gritou:

- GUERREIRO ONDE ESTÁ O TEU FUZIL?

Calmamente Caldeirão respondeu:

- Está ali, encostado na parede do canil, Senhor.

- Tá maluco guerreiro?! Por que você fez isso? Perguntou o rondante já perdendo a paciência.

- Sargento, como se chama aquele fuzil?

- FAL.

- Que significa?

- Fuzil Automático Leve. Respondeu o sargento sem nenhuma paciência e sem entender aonde o recruta queria chegar. Caldeirão continuou:

- Pois bem, o Sr. Acabou de matar a charada, se o fuzil é “automático,” ele tem o dever de me proteger sozinho, assim como este posto que estamos guarnecendo e, apesar dele ser “leve,” eu não tenho a obrigação de ficar com ele em bandoleira porque dessa forma eu estaria realizando uma função que pertence única e exclusivamente a ele. Concluiu o recruta de forma eloquente. O sargento por sua vez, estava boquiaberto pois em toda a sua carreira, jamais tinha ouvido tamanha estupidez narrada com tanta convicção.

- Olha só recruta, vou te dar mais uma chance. Talvez você esteja com sono, vá até aquela torneira e molhe o seu rosto para ver se você acorda desse teu delírio noturno. E pega logo o fuzil antes que ele suba pelas paredes. Escuta aqui, eu não quero ver esse fuzil longe do teu corpo. Você está entendendo?

- Sim Senhor! Respondeu o recruta um tanto despontado.

O sargento retornou para a guarda ainda sem acreditar no que havia acontecido e perguntava a si mesmo: “como pode existir um ser tão bisonho a ponto de pensar um coisa dessas?” Mas, ao mesmo tempo sabia que tinha que ter paciência e ensinar o jovem recruta da melhor forma possível, talvez reforçando o aprendizado que ele recebera durante as instruções. Mas de uma coisa ele sabia, que três dias de pernoite seriam suficientes para contribuir com o aprendizado do militar. Sorriu de canto de boca ao pensar isso.

Fabrício Fagundes
Enviado por Fabrício Fagundes em 26/11/2022
Reeditado em 27/12/2022
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