CASA GRANDE

Sou descendente de baiano, que vieram para São Paulo, à procura de uma vida melhor, ao chegar descobriram que não era moleza viver aqui, tiveram que dormir nove meses no chão travesseiro de couro de carneiro.

Nasci aqui na terra da garoa numa casa de um cômodo pequeno da cama pegava as coisas na geladeira e almoçamos na mesa, teto baixo, se erguesse à cabeça batia parecia mais um ovo do que uma casa.

Sou mais um paulistano descendente de baiano que corre na veia o sangue do índio nesta mistura brasileira.

Vou lhe contar uma historia que vem de família, como surgiu a mistura das raças (a miscigenação familiar) índia caçada a dente de cachorro dos olhos castanhos esverdeados.

Na minha veia corre sangue alemão, alemão que odiava negro nos tempos da escravidão assim dizia minha avó que chegou a conhecer no tempo de menina, velho turrão que gritava para os quatro cantos da fazenda, viu negro parado é um tronco negro sentado é um porco negro não ri, relincha tem mais coisas que não vem a mencionar.

Alemão ignorante nos tempo de hoje seria processado por descriminação racial não é porque era da família que vou achar bonito esta historia sentado em sua cadeira de balanço, casa grande, área toda em volta, feita encima de pedra, chapéu de palha, pinga na mão, produzido na própria fazenda, chicote do lado.

Não tinha o que fazer gritava os empregados, trabalhem direito ou chicote no lombo vai comer ai daquele que resmungar para o tronco ia apanhar nas mãos argolas, seu corpo seria marcado pelo chicote do senhor seu patrão, braço erguido, corpo no chão, sol na cabeça, sangue escorrendo na poeira.

O velho chamava todos os escravos para saberem quem mandava na fazenda, no meio deles tinham pais, filhos e irmãos daquele que estava no tronco poderiam implorar, mas não ia adiantar ele gritava, se abrirem à boca mais uma vez serão os próximos a ir para o tronco apanhar, lágrimas descia por não poderem fazer nada por aquele ente da família.

De noite o velho não era besta largava a velha índia dormindo na casa grande para se deitar com as escravas na senzala fazia a festa, nesta hora os negros prestavam, ele fazia o que queria e ainda assim saia cantarolando e dando risada da cara dos escravos.

Crianças pela fazenda tinham aos montes com tom de pele e olhos mais claro, do que os outros todos sabiam, ele sabia de quem era, mais as crianças continuavam na senzala escravos.

Na colheita do café e na capinação do chão, escravos cantavam para tirar do pensamento a desgraça da escravidão através da musica poderiam sonhar em dias melhores sem correntes, sem chicotes e sem a desonra de um povo sofrido só porque nasceram com a pele escura.

A raiva era tanta do senhor seu patrão numa noite de lua cheia na senzala se juntaram e começaram a maquinar como iriam dar um fim no velho, uns ficaram comedo outro não podemos continuar nesta vida então tiveram uma idéia quando o velho vir para senzala para se deitar com nossas mulheres, e pedir o copo de pinga, dentro vamos colocar veneno que em questão de minutos o efeito fará.

O velho quando estiver com os olhos revirando e por ajuda chamar, nos damos o golpe final todos concordam então vamos esperar ele chegar.

Tarde da noite como quase todas as noite ele fazia.

O velho patrão vem cantarolando entra na senzala olha para os escravos e ri e diz o que estão olhando todos abaixam a cabeça e pega uma negra pelo braço, ela olha para seu marido que não pode fazer nada e sai chorando.

Ele sai dizendo em tom de gozação hoje você vai ter o prazer de se deitar com um homem de verdade, tragam minha pinga, os escravos já tinham batizado.

O velho patrão pega o copo e vira em uma só golada minutos depois começou a passar mal pediu ajuda, mas os escravos não quiseram ajudar, deixaram o velho agonizando, todos olhando para seus olhos virando dando seus últimos suspiros e morre.

Na casa grande a velha índia escutava a festa na senzala, não sabendo que seu marido que a caçou com dente de cachorro estava morto com os olhos revirados.

Na senzala os escravos cantavam, dançavam felizes e gritavam.

Alemão miserável

Do estrangeiro veio para cá

Desgraçou muitas famílias

Sua vida acabamos de tira.

Mostramos que os escravos também é gente

Não temos culpa da nossa pele

Ter nascido escura,

Preta como queiram chamar

Chega de chicote, chega de açoite.

Chega de nossas mulheres

Seres estupradas

Só por não ter nascidas com a pele clara

Branca como o leite tirado da teta de uma vaca

Se acha no direito

De fazer o que querem

E nossos filhos já nascem com medo

Para o patrão é bom

Não precisa gasta, mas nem um tostão

Mais negros na senzala

É mais um neguinho no terreiro

Um dia seremos liberto

E nossos negros terão um futuro melhor.

Deste não seremos mais maltratados a festa foi à noite toda, de manhã todos foram fazer suas obrigações.

Na casa grande a velha índia se levanta procura o marido que não estava na cama, vai até os empregados e pergunta se viram o patrão, um dos empregados fala ele passou a noite na senzala.

Então vai até a senzala e avisa que eu estou lhe procurando enquanto os outros empregados que já sabiam do acontecido fingiam não saber de nada.

O escravo foi e voltou correndo, dizendo patroa, patroa seu marido não está bem, como não esta bem, fale homem, seu marido esta morto.

A velha índia corre para senzala e se depara com seu marido morto no chão com olhos regalados e sem roupa.

Os escravos olham para a velha índia triste ficam falando um para o outro ela nunca nos maltratou, mas aquele velho não valia o que comia ,ficaram com dó da velha índia, os seus olhos se encheram de lagrimas ao ver seu marido morto, mas agradecida por ter acabado aquele sofrimento de anos e a humilhação de ter sido tirada do seu povo ainda novinha caçada como um animal selvagem a dente de cachorro.

Um dos escravos pergunta senhora o que vamos fazer, a velha índia dá um tempo e responde, vai até a cidade e avisa as autoridades que seu patrão morreu, depois de ter se deitado com uma escrava e seu coração não agüentou.

O escravo montou no cavalo e foi até a cidade e avisou as autoridades e para os quatros ventos que o velho alemão teria morrido encima de uma escrava o coração não agüentou.

As autoridades vieram até a fazenda para verificar como o velho fazendeiro teria morrido e fazer a liberação do corpo para o enterro.

Horas mais tarde o velho alemão já no caixão no velório não tinha quase ninguém, o velho tinha poucos amigos, na fazenda pairava o silencio na senzala os escravos estavam preocupados com o futuro deles.

O enterro foi feito dentro da própria fazenda logo após todos foram embora e a velha índia voltou para a casa e ficando semanas.

Os escravos todos estavam impacientes qual seria o destino deles será que vamos continuar aqui na fazenda ou vamos ser vendidos para outras fazendas à pergunta estava no ar e ninguém sabia responder só a velha índia.

Após algumas semanas a velha índia resolveu sair de dentro de casa, chamou todos os escravos, na senzala todos ficaram preocupados com o futuro deles será que vamos continuar na fazenda vamos ver o que a velha índia quer nos dizer.

Eu chamei todos aqui, primeiramente para pedir desculpas pelo o que meu marido fez durantes todos estes anos com vocês a partir de hoje estão soltos, livres podem ir para onde quiserem ir.

Os escravos olharam um para a cara do outro e disseram senhora sempre sonhamos por nossa liberdade, mas agora para onde nos vamos, a maioria de nos nascemos aqui, não temos terra, as nossas famílias estão todas aqui.

Então a velha índia sugeriu então fiquem todos e trabalharemos juntos tem muita terra os escravos ficaram muito felizes que agora seria novos tempos sem chicotes e sem as suas mulheres teres que se deitar forçada com o patrão e os filhos teriam um futuro melhor do que os deles do tempo do velho alemão.

A velha índia virou a costa com dever comprido e entrou naquele mundaréu de casa, o que agora predominava era o silêncio na ausência do velho alemão. Mas de vez em quando escutam o estralar do chicote na senzala e na casa cadeira de balanço a balançar.

Paulo pereira

PAULO PEREIRA
Enviado por PAULO PEREIRA em 21/10/2022
Código do texto: T7632739
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