Acento diferencial...

Antes de nossa atual reforma ortográfica, houve outras. Todas com os melhores propósitos de senão uma unificação, pelo menos uma maior harmonização dos diversos falares de nossa inculta - e hoje reconhecida como penúltima - Flor-do-Lácio, nascida em Portugal e espalhada pela África, América do Sul e, surpreendentemente, Ásia. E juntar esses retalhos glóssicos tão variegados não é moleza, principalmente quando um povo, um território, uma nação, ao longo do tempo, se avoca senhor e dono de sua língua, composta de linguajares e linguagires...muitas vezes específicos de sua formação histórica, antropológica e cultural.

Pois bem, do meu tempo de admissão ao ginásio, finzinho de 1961, feito num formato sanduíche de dois meses, após o término do curso primário e início do secundário, guardo esta preciosidade relativa a uma dessas nobres iniciativas, denominada acento diferencial. A dita figura de linguagem aplica-se a casos em que vocábulos grafados de uma mesma forma possam ter mais de um significado, variando apenas a abertura ou a oclusão de alguma vogal...

Sei que desenhar para melhor esclarecer não adianta, sou mau desenhista e induziria a mais confusão. Assim, ensaio uma explanação verbal, esperando que mais valha o escrito do que o próprio mito: tomemos as palavras pode e pôde... que dizem bem do tempo exato do verbo poder. Hoje esse circunflexo está abolido e ninguém pode entender porquê...Pode isso?

Mas vamos a um outro caso que me parece mais prosaico, senão quase anedótico: havia tôda e toda...que foram mantidas não sei bem até quando. A explicação que se provia para essa desambiguação era a seguinte: tôda era o pronome e toda era substantivo, designativo de uma ave de Portugal, matriz de nossa língua comum... E ficava tudo mais claro então para nós, brazucas, distantes a beça da terra de Eça, mas residentes, ai de nós, na de Queiroz... e nem sei se naquela tempo rachadinha já tinha... Contudo, em Portugal, consta e se contava, o tôda mantinha seu acento enquanto a toda era dele destituída por ser uma ave só no Brasil conhecida...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 21/10/2022
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