Em nome do Pai...

Reencontrar o Vovozim e ouvi-lo narrar suas histórias é um prazer quase sem fim. Do alto de seus 91 anos bem vividos ele vai desfiando a memória em causos testemunhados, ouvidos, e nunca olvidados.

Sapassado, saindo da padaria-confeitaria do Zezim, sita na praça de São José, café tomado, Vovozim relembrou-me:

- No meu tempo de rapaz, a Sexta-Feira da Paixão, ao anoitecer, coalhava a cidade de gente, não só os residentes que compareciam em massa à busca de perdão e graça, bem como os das redondezas, dos povoados mais distantes...concentrando-se principalmente à volta da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar para a solene procissão do enterro.

O comércio, conquanto respeitoso do evento mais compungente da cristandade, com portas semi-cerradas, não só acendia como também atendia a fome dos fiéis que tinham que aguentar horas de veneração.

Um roceiro que havia cavalgado léguas, adentrou, o bar do João Bila, sempre acolhedor e dos mais populares do entorno da matriz, e indagou o balconista:

- Cumé que tá o pão breiado na mantega...moço?

- Tá a quinhentos réi, sô...

- Uai, intão aumentô hoje...ans eu pagava duzencinquenta...

- É sô, mais o de hoje, purcaus da festa é bento...

- Ah bão, eu até fazia memo ideia, intão.., racha e breia...!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/10/2022
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