LUTARIA PURA

Peço escusas ao juiz para narrar uma put@ luta. Nosso Matrix parece Batman. Togado no superego repressor. Muitos Robins o ajudam a digitar suas verdades.

Preparem suas defesas, armem seus golpes.

No telão quatro lutadores salivam para ganharem seguidores, likes e engajamento.

Sem baixarias, chiliques ou cancelamento político.

Súmula confeccionada pelos estagiários antes da luta, só assinar em diagonal e triangular reticências...

Cruzado, jab e rasteira tem que sair com perfeição - nocaute é a missão. Não escorregue no pronome de tratamento, pois será crucificado com sua reputação, caso deixe escapar um “você”.

Vamos qualificar os lutadores:

1) Pivete: equilibrava corda cercando trio elétrico para impedir a fuga das galinhas cheias de loló no carnaval. Formado no EJA em briga de rua, aprendeu esquiva após perder uns dentes para “um maluco no pedaço” da Fundação Socioeducativa. Dava bote em correntes douradas andando no pescoço de opressores. Graças a obra do universo fora convertido. Tornou-se cobrador de impostos celestiais na África. Foi expulso daquele país e aproveitou o networking para ser um comediante influente. Tem a cara ungida no óleo de peroba.

2) Capoeirista: gostava de dar rasteiras nos amigos e salto mortal nos credores. Às vezes caia de cabeça no ringue, por ser cabeça dura, não tinha nada, só um berimbau enfeitado. Ganhava a vida tocando para turistas no Pelourinho. Apaixonou-se por uma gringa de saia florida numa roda de entorpecentes. Agora viaja nababesca do sogro e posta fotos no Instagram.

3) Jiujiteiro: mata um leão por dia e sofre bullying da receita todo ano. Herdou uma academia de crossfit, apesar de não ser formado em educação física, consegue secar os alunos. Tem um pitbull manso que deixa solto na rua para assustar os transeuntes. Adora uma confusão para ralar a orelha no chão.

4) Boxeador: Praticava esportes desde pequeno: corrida, natação, judô, karatê, pular corda. Depois de retornar de olho roxo da estação da LAPA, escolheu lutas de verdade, viu no boxe sua chance de vitórias. Corpo em forma, cabeça vazia. Vivia iludido pelos amigos de futebol, viciado em apostas esportivas e corridas de galgos. Todo endividado, ficou deprimido. Os remédios controladores incharam seu ego e o deixaram com mania de grandeza. Numa saída de uma boate, embriagado, beijou um gato travestido de lebre, saiu arranhado e na imprensa. Usou a fama para desafiar o “pivete” para um duelo. No Programa do Sikêra Júnior, ao vivo, disse em tom de provocação:

- Moleque, lhe darei pedradas na cabeça com minhas luvas, quem sabe seu juízo não sobe para a canela.

Nessa noite duas lutas: Pivete x Boxeador e em seguida, Capoeirista x Jiujiteiro.

Que comece a luta!

Toca o sino, aproximam-se os adversários. Em vinte segundos de luta, o Pivete vai a lona com o juízo no lugar.

Pivete aparece, boxeador reaparece e árbitro agradece.

A gringa aponta para o troféu e uma placa de mármore para motivar o Capoeirista. Jiujiteiro pronto. A justiça seja feita.

Iniciado o combate. Parece uma dança de acasalamento entre cadela pinscher e labrador aloprado. Não entra nada!

Essa maldita tensão deu um piripaque no juiz. Levou a mão ao peito e caiu duro em verdadeira grandeza. Ninguém encosta para realizar uma massagem cardíaca, pois era cheio de não me toque. A luta foi interrompida.

A placa reservada a um atleta em caso de óbito foi entregue à família do “capa preta”.

Serviu de lápide: “Aqui jaz um supremo lutador. Largou o osso quando perdeu os caninos. Vossa Excelência, seu lugar está reservado no Altar do Olimpo.”

Isaac Machado Azevedo
Enviado por Isaac Machado Azevedo em 03/10/2022
Reeditado em 26/07/2023
Código do texto: T7619825
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