SAIA DO PROBLEMA
Numa sala de aula tinham alguns pássaros voando em círculos. Deixaram a porta e janelas abertas e eles entraram. Inicialmente, não fazia diferença a presença dos pombos, pardais, rolinhas, etc.
Quando um companheiro de turma abriu um pão com mortadela começou a perturbação. O professor tomou um rasante amedrontador. Alunos tiveram a iniciativa de usar toalhas, pano de chão e camisas na esperança de apanhar os intrusos no ar e retirá-los em segurança. Esforço em vão. Ficaram observando aquela cena e quando a atenção estava voltada para o problema, perceberam que a sala já estava toda cagada.
Muitos já estão cansados e suados. A aprendizagem tinha ido pelos ares.
O professor irritado começou a postular teorias “qual retórica uso com esses pássaros delinquentes” ou tipo “quero brainstorming de argumentos de autoridade para expulsá-los.”
Alguns alunos dissidentes tentaram propor soluções de manual: “quais os princípios e fundamentos do voo dos pássaros” e “vamos dividir o problema, analisar, comparar e levantar algumas linhas de ação”
O Mestre andando em círculos, parou, respirou fundo e pensou “desse problema criarei uma prova prática. Quem solucionar o problema ganhará passagens aéreas do próximo passeio da turma.” Lançado o desafio, agora tinham a motivação de achar uma solução.
O armado de estilingue, sacou suas bolinhas de gude e atirando a esmo conseguiu quebrar alguns vidros e arranhar a pintura da parede.
O especialista em artes marciais lançou alguns golpes ao vento. Resultado do combate foi uma cadeira indisponível e sua mão quebrada.
A soprano aloprou e cantou uma nota aguda. Segundo ela de frequência ressonante, para espantar os males causados pelos voadores. Essa inocente perdeu a voz, a peruca e a oportunidade de ficar calada.
Passou a tia do lanche no corredor e vendo aquele alvoroço todo, resolveu deixar migalhas de pão na frente da porta. Os pássaros que não são alunos, voaram para suprir sua necessidade básica. Deixaram os alunos na mão e o professor em paz, bem como pairando uma senhora dívida.
A salvadora da aula foi aplaudida e ovacionada por todos. O professor, ligeiro no pensar, carteou sua fundamentação teórica: essa é a lei do pardal: “se prender caga, se soltar voa.”
A tia do lanche, muito humilde, sorriu e rebateu: “quem está inserido no problema, não resolve o problema!”