Vou Fazer Meu Próprio Caixão
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Raimundo Cocão achava ter vivido muito e começou a se preocupar com o final da vida: o dia derradeiro da sua existência terrena.
Não queria, após a morte ser conduzido num ataúde qualquer... se perder no caminho do cemiterio (em seu cortejo fúnebre), pela fraqueza do caixão; como em alguns relatos que já ouviu nesse sentido.
"Eu mesmo vou fazer o meu caixão".
Como carpinteiro que sempre fora, a ganhar a vida nesse ofício, realizou mais esse sonho; numa economia de gastos a quem para trás ficou. Ao fezer (como planejou) seu próprio caixão.
... Em madeira de primeira, de lei; bonito, e, o manteve pendurado num prego na sala de estar, na casa da Fazenda, por umas duas décadas.
As visitas que não sabiam de nada ao chegarem a sua casa e verem aquilo, quase morriam de susto.
Raimundo separou um novilho para ser abatido na festa: do dia da sua morte.
Só que num piscar de olhos o ano ia-se embora. E ele firme: não morria; e novamente o animal precisava ser substituído por outro.
A cada ano que passava fazia isso e nessa labuta substituiu mais de 20 novilhos, até morrer.
No velório mataram o boi e foi aquele festão de comes e bebes e tudo mais ....
Construíram um banguê (estrutura de madeira para conduzir por cima, o caixão e o esquife).
Homens fortes em revezamento fizeram seu traslado à sua última morada; que ficava um pouco distante da Fazenda.
Na procissão fúnebre ao campo-santo seus condutores, a multidão que acompanhava o féretro e prestar suas condolências... Vê-lo pela última vez...
Tiveram que abandonar o corpo de Raimundo Cocão, por um tempo, ao pó da estrada; pela muita urgência que tiveram: foram atacados por um grupo de vacas que pastavam às margens do caminho e do nada se enfureceram.
Depois de muito lutarem com o rebanho bovino... Homens, mulheres e crianças, com paus, pedras, em lágrimas, choros e gritos afugentaram o gado; e o enterro seguiu seu trâmite normal.
Por fim, Raimundo Cocão seguiu em paz o resto do percurso, sem mais problemas, ao seu descanso final.
Nemilson Vieira de Morais,
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.
(14:09:22)