A Matadera
— Anfilófio, ocê num qué mais ficar com eu, num é?
— Vixe! Se assussega, Esmerita, qui eu inda gosto muito docê!
— Mas tu anda cum zói meio cumprido pro lado da Sebastiana...
— Maginação, muié, maginação...
É, talvez a Esmerita tivesse razão. Provavelmente, o Anfilófio não aguentasse mesmo ver um rabo de saia. Mas o fato é que, deitados em redes separadas depois de um dia exaustivo arrancando mandioca na roça, naquele momento o sono lhes parecera algo mais útil do que qualquer desmantelo. Pelo menos, enquanto as galinhas não acordassem...
— Levanta, seu disgracento! Toma tenência na vida! Eu me alembrei de um sonho que tive ontônti e o sonho é as luz de Deus mostrando qui tu é fulero, qui tu é um sem vergonho, qui tu é um num sei qui diga...
Eram quatro da manhã. Esmerita de pé, gaguejava e cuspia. Gostava de mascar fumo de corda com cachaça assim que acordava e, como não abria mão desse hábito, mesmo quando estava enfurecida, a cada meia dúzia de ofensas escabrosas, virava a boca para um lado, dando em seguida uma grande cusparada escura e malcheirosa, deixando bem visível um rastro gosmento que escorria entre uns poucos dentes encardidos e tortos, passando pelo queixo, pescoço, e sumindo por detrás de um califom puído, encoberto por um também roto vestido de chita.
Aquele dia não seria dos melhores para Anfilófio. Antes que descobrisse se sonhava ou se apenas vivia a sua dura realidade, recebeu a rebordosa:
— Vem! Pega teus trens e cai no meio do mundo!
Aquela mulher parecia um liquidificador de emoções, o "Cão por dentro do mato!"