Vamô curti essa Balada !
Minha nossa, a vida perfeita de um jovem é um bom emprego, onde ele possa ganhar para fazer o que gosta. No caso de ser um jovem que goste de baladas, a vida perfeita (até ele realmente descobrir que esta palavra não existe) é um bom emprego que cubra além da faculdade, suas baladas.
E “De repente, não mais que de repente” elas surgem na sua vida, assim na terça ou quarta-feira, datada para o sábado. Aí são muitos planos, e tal e coisa e coisa e tal. Ainda mais tratando-se de balada fora da rotina: aquelas que são promovidas por conta de ocasiões especiais, e que você sabe que vai ter um monte de conhecidos que você gosta, do tipo casamento ou formatura.
Dentro das suas características, surgiu uma numa quarta, na facul, a gente é dos primeiros períodos, e quase no fim de ano, pintou a formatura do nono período, o que significa FESTA! Porque toda formatura tem baile, tem lugares bonitas, roupas extravagantes, gente risonha, chorosa, e música boa de banda legal.
Feitos os contatos mais do que uma prece. Contatos mais rápidos do que se fosse um caso de vida ou morte... Ops! Era um caso de vida ou morte. Sabe quando alguém da ‘piti’ porque corre o risco de não ir àquele lugar? Era assim o sentimento.
Convite na mão, terno, mala pronta para a cidade vizinha, realmente era a balada dos sonhos. Além de ser fora do normal, teria muita gente conhecida. Peguei no ônibus ainda vestido de normal, e me mandei de primeira classe. Me troquei por ali perto do lugar nobre, na rua nobre, para a ocasião nobre. Já se fazia noite, mas aquele terra vive eterna sem olhar ponteiros. De caso feito todos já a espera. Gente fixa e participações especiais, trajadas com coisas que nem imaginava no couro deles, só mesmo vendo, era todo mundo bem bonito assim. Dava pra fazer um casting legal sabe, e de social então, valorizava muito mais.
Entramos, sentamos no ambiente decorado de luxo já cheio de familiares, salgadinhos e petiscos afim sobrevoavam nossas cabeças. Viramos três taças de vinho e um copo de uísque na mesa e no chão, estávamos numa ilha de destilados, na verdade quase afogados, e aquilo era apenas o começo... Os formandos chegaram, e rolou toda aquela tradição de brindes, valsas, homenagens e cumprimentos. Nossos copos estavam vazios e qualquer garçom que passasse era barrado pela nossa vontade, porque independente das idades, ideais, ou caminhos de onde vínhamos ou tomaríamos, todos tinham um compromisso aquela noite: beber muito, até cair!
As luzes diminuíram, a banda mostrou a que veio. E na empolgação sedentos de colocar os ossos fora do corpo. Aquela básica rodinha, muitos copos na mão. E estávamos bem no centro no coração daquela cidade que todos ali amavam, num lugar cheio de histórias pra contar, secular semelhante a luxuoso cabaré. Ali não era faculdade, por isso éramos muito mais felizes, e depois dali demoraríamos a nos ver. A regra geral era aproveitar cada momento, e para auxiliar bastava nossa alegria e companheirismo e a fascinante idéia de trazeres uma câmera digital pra eternizar aquelas preciosas figuras. A banda era realmente muito boa, tocava de tudo, todos os hits, surpreendendo quem estava ali pra se acabar. As coxinhas não mais nos sobrevoavam, e vez por outra encontrávamos com aquela pessoa amada, a qual não podemos deixar passar despercebida sem qualquer brincadeira, ou até mesmo direito a uma dança. Após uma linda canção, na seqüência começou a seção das antigas. Aquela vaca com aquele vozeirão interpretando Time after time, He must a been love, True Collors, Something, La isla Bonita, Murder on the dance florr, entre outras em que todos fizeram as convenientes coreografias e sabiam até de trás pra frente a letra. Estas canções nos moviam então a mais álcool, e quando depois de umas horas na festa, já estava todo mundo sob o efeito da líquida drogas... “Vamô curti essa balada!” e mais dança e mais bebida, mas uma música estava faltando, uma música bem famosa, no estilo ‘poperô’, Uma de nossas amigas, que tinha voz linda, subiu ao palco, falou com a banda e meteu aquele som na galera, agitou gera!
Ela não desceu do palco, se jogou e nós a pegamos, a levamos de cadeirinha por todo salão e depois fizemos vários trenzinhos. Os meninos cantaram todas as meninas e gritávamos e cantávamos juntos e roubávamos bebidas boas. Dividíamos copos e fazíamos declarações... Coisas de bêbado. Ríamos de tudo, fazíamos de tudo, nosso corpo, e nossa mente principalmente eram multifuncionais. Foi “A FESTA!” Alguém dos nossos vomitou pelo meio do salão, outra rasgou o vestido, e alguns desfilavam já quase destrajados de sapatos á mão. O dia estava amanhecendo, tínhamos quase causado uma briga, a banda parou apenas com algumas pessoas no salão. O sol entrava por tímidas frestas,e sem opção tivemos de ir embora. Eram sete da manhã e estávamos brincando no chafariz perto do salão, enquanto velhinhas iam para a missa e cachorro catavam comida no lixo... Nós éramos cachorros, e éramos também um lixo, o lixo mais risonho e feliz do mundo. Nos lavamos naquela água com merda de pombos e poeira urbana, completamente bêbados e loucos, porque naturalmente sem nada no sangue ou na cabeça, já éramos doidinhos, com alguma coisa pra ajudar então, bombávamos! Não podíamos pegar o ônibus molhados, então nos deitamos em banquinhos na praça, a conversar alto sob o sol, e a nos secarmos. Eram nove da manhã, hora da despedida, os que ali moravam, se foram, os demais tinham de tomar seu rumo. Queríamos ir na praia, mas era muito longe, já bastava o quase um quilometro que caminharíamos de trajes a rigor para chegar na rodoviária.
Entramos no terminal, aquele bando de mortos que acabavam de acordar fazendo o maior esporro, e nem um minuto se passara, já havia locomoção para nosso destinos. Sem parar um minuto, nem sentimos chegar. Daí sim, fomos a praia, mais uma vez nos banhamos de água de sal. Fomos á casa da cantora, e dormimos um sono... Estávamos tão bem. Por que todos os dias não eram assim? Porque então não haveria a mesma graça se fosse rotina. Pra garantir e curtir mais um pouco daquela fantástica parceria, desmarcamos compromissos e dormimos até a noite, apenas num deitar de cabeças e roncos chegavam á rua em frente ao lar. Ao acordar um churrasco e boa música na ampla área de lazer da casa nos esperavam... È, não dava mesmo pra ir embora... Fazer o que não é mesmo? Já que a vida insiste, não rejeitemos estes delicados prazeres!
Douglas Tedesco – 11/2007