TEMPESTADE DE RAIOS

O mar estava calmo naquela manhã em que o sol parecia estar com preguiça de sair dos lençóis das densas nuvens negras, pejadas de umidade, pouco acima da linha d`água.

Não havia necessidade de desfraldar o velame, porque a ordem era manter-se fundeado ao largo. Não havia espaço no porto para descarregar os fardos de fumo vindos da América do Sul. Aquele dia que tinha tudo para ser preguiçoso, modorrento, de poucas palavras entre os goles de rum servido em canecas de louça barata. Apenas o pessoal de convém precisaria manter a rotina de limpeza do passadiço em torno das bocas dos porões.

A brisa lenta que se esgueirava entre as demais embarcações, não era forte o bastante para dissipar a névoa tão escura quanto as nuvens que mantinham a sensação de abafamento do dia anterior que, apesar de ensolarado, por várias vezes, a chuva interrompera o descarrego dos navios atracados.

De repente um raio iluminou todo o porto e o trovão quando ainda havia a claridade ofuscante estilhaçou os vidros das vigias da sala dos oficiais que, em torno da mesa encardida pelos muitos anos de uso, faziam as apostas com os poucos trocados que lhes restavam no jogo de dados, imediatamente interrompido.

Todos a seus postos, foi a ordem dada pelo Imediato, devido a sequência de descargas elétricas que poderiam atear fogo no velame da embarcação feita de madeira.

Não havia chuva.

Apenas as descargas elétricas que riscavam o céu em todas as direções, num espetáculo fantasmagórico por entre as nuvens que impediram que o sol aparecesse.

Na boca da noite, o catraieiro trouxe para bordo, o comandante e seu ajudante de ordens, completamente embriagados.

Amanhã será diferente de hoje.

A rotina será cumprida, como de costume...

OBSERVAÇÃO:

Conto inspirado na obra do Pintor Osvaldo Heinze

RESSURGÊNCIA NAS BERMUDAS

Abril/22