A TRAJETÓRIA DO ZEQUINHA

 

       Zequinha era um garoto humilde, nascido num vilarejo do interior do Ceará, o segundo dos sete filhos de um casal de pequenos agricultores. Não tinha tempo para brincar, a sua vida se resumia ao trabalho na roça, acompanhado de seu pai, desde os sete anos de idade. Todo dia era a mesma rotina: árdua tarefa de limpar a terra, plantar e colher. Uma vez por ano, havia a colheita de algodão e parte do apurado na venda era destinada à aquisição de roupas, limitada a uma peça para cada membro da família. No entanto, Zequinha era um menino interesseiro e esperto, sabia negociar, com um tostão ele ganhava dez, como diziam os nativos da vila. Seu primeiro bem foi uma bicicleta usada, que não emprestava a ninguém, e, para os irmãos não usarem, passou a amarrá-la no telhado da casa. Zequinha cresceu e passou a trabalhar também para outros agricultores do lugar, nos horários vagos da sua roça. Não tinha hora e dia para correr atrás da suada moeda e foi juntando cada tostãozinho que conseguiu adquirir pequenas propriedades ao longo do tempo. Casou cedo com uma garota do vilarejo, uma maneira de sair de casa, já que a sua mãe era muito severa na criação dos filhos. Segundo comentavam, cuspia no chão quando mandava um deles resolver algo, e sempre dizia: "Vou cuspir aqui, e se ao voltar, tiver secado, leva uma boa surra para aprender a resolver as coisas com rapidez e não ficar de funaré na rua". Zequinha não frequentou escola mas aprendeu a assinar o nome e era muito bom de números, sabia multiplicar de cor e salteado e possuía excelente memória. Junto com a primeira mulher, tiveram dez curumins, todos mãos-de-obra para as plantações de arroz, feijão, milho, algodão, etc. Não satisfeito, arrumou outra companheira e lá vai mais meia dúzia de filhos, fora o pinga-pinga que apareceu de mulheres diferentes. Zequinha era “gostosão’’, apesar de feioso e ser conhecido como “sovino”, mas um garanhão de boa lábia com a mulherada. Conta-se que certo dia levou um dos meninos à feira, e a cada banca que passava a criança pedia comida, e ele, sempre respondia: "Aguenta aí, mais tarde compro". Passado um tempo, o sol já a pino, o moleque, amarelo de fome, teve um desmaio, e juntou muita gente perguntando o que tinha acontecido com o menino, e o pai avarento respondeu: "Ele comeu demais, fez uma misturada danada e passou mal". E Zequinha foi prosperando, comprou um carro de passeio e, por fim, um caminhão para aumentar a sua renda. Logo, contratou um motorista, já que não sabia dirigir. Em uma das viagens, o rapaz já cansado e com a barriga roncando falou: "Sr. Zequinha estou morrendo de fome", ele respondeu: "pega uma cadeira, senta perto daquele povo que está assando carne, sinta o cheiro, que a fome rapidinho passará". Hoje, decorrido o tempo, Zequinha já não está mais com a bola toda, idade avançada, casou novamente. A primeira mulher foi para o andar de cima, a segunda mandou ele passear, a terceira não aguentou a sovinagem e a última assumiu o comando de tudo, veio para ficar. E assim, Zequinha deixou de cantar de galo, vive uma vidinha pacata, filhos criados, muitos netos. Porém, muito preocupado com o futuro, medo de ficar sem o sustento, sempre com um dinheirinho escondido debaixo do colchão da cama. E o que lhe dá alento para continuar é achar que deixou exemplo para muita gente. Ele mesmo conta sempre a sua sofrida, mas feliz e engraçada trajetória de vida. Segundo ele, a sua hilariante história ficará gravada e fará parte da vida das atuais e futuras gerações familiares.